segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

358 dias;

Mouling Rouge, tequila, família, abraços, carinho (...) Dois mil e sete começou mais ou menos assim. Aliás, a cronologia completa nem é tão relevante no contexto atual, mas, digamos, que ter um início de ano como o que eu tive foi fator crucial para uma série de coisas que vieram em seguida. Em parte, isso é culpa da minha mãe - eu acho. A minha querida costuma dizer que é importante pensar em sentimentalidades bonitas desde o primeiro dia do ano. Desse modo, os outros 364 dias obrigatoriamente devem seguir a ordem do que fora idealizado. E, eu não me cerquei de cuidado algum para pensar no que eu queria em 2007. Talvez fosse melhor ter levado ao pé da letra aquele ditado: 'cuidado com o que você deseja, uma hora pode se tornar realidade'.

Mania de sonhar o inexplicável.

Olhando para trás, percebo que fizeram muito por mim. Confesso não ser a sociabilidade em forma de gente, no entanto, conheci pessoas que me deixaram provar do inverso. Quando digo isso, lembro dos sorrisos que me foram entregues com facilidade; dos amigos antigos, sempre presentes embora a ausência física seja amarga; dos novos amigos, que já parecem conhecidos de longa data; de brindar com razão; de brindar por duas décadas; de fazer a linha 'Brilho Eterno de Uma Talita Sem Lembranças'; de trilhas sonoras impecáveis; de decorar os discos da Feist sem querer; da telepatia habitual; dos meus pecados sulistas; das ligações não atendidas; das minhas vontades feitas; do gosto pelo café; do gosto pelo alheio; da devoção por cinema; da sensação de liberdade, mesmo namorando despretensiosamente.

Por conta disso, descobri que o meu coração é um bocado grande. Se eu comentar algo relativo com o meu primo, é certo que ele vai fazer uma piada sem graça referente ao número do meu sutiã. Contudo, falo sério. Acredito que a causa da minha morte - que um dia virá - vai ser por motivos cardíacos. Não por questões de sofrimento passional; pelo contrário, o lado esquerdo do peito está tranqüilo e cada vez mais enamorado. Porém, apesar de ter um coração forte sem muitas decepções para contar, o músculo involuntário dói. E sempre pelo mesmo motivo. Saudade é o que há.

Não tenho dúvida de que pessoas legais moram longe. Entretanto pessoas mais-que-legais, daquelas que tu vai querer contigo nem que seja em pensamento, moram muito mais longe ainda. De fato, eu nasci pra sentir isso. Sou um poço de nostalgia e uma saudade ambulante. Sinceramente, isso não muda; uma vez que não há remédio que reverta o irreversível. Quanto à inexistência de cura para ações imutáveis, aquela mania de se apaixonar continua. Vi-me encantada desmedidamente três vezes, por almas tão iguais e tão diferentes entre si. A propósito, disseram-me que nos apaixonamos por pessoas que carregam consigo um pouco do que temos e um muito do que queríamos ter.

Não é que isso tem uma lógica?

Pois bem, comprovando que eu não meço limites e deslimites em tangência do que eu sinto - e, quando eu sinto, eu sinto em demasia -, não tive vergonha de aparecer sem aviso, nem tive receio de pedir cafuné; não tive medo de tirar o vestido ou confessar a proporção dos meus sentimentos; peguei no sono da melhor forma do mundo em 22 de setembro; e aprendi um mínimo de italiano e espanhol, meio que para falar na mesma língua que os amados.

O vício por sotaque é aquela coisa toda. O vício por consoantes, idem.

Ganhei presentes sem aviso prévio. Até consigo escolher o mais adorado com unanimidade: foi quando o guri de camisa xadrez cantou Mutantes e disse que a minha Keep Cooler de pêssego era frescura de menininha, embora assumir que achava um charme.

Ganhei um sobrinho.

Mudei um tanto. Todavia, ainda tenho as minhas teorias loucas, planos que beiram o mirabolante e atitudes sem sentido. Ainda omito frases e me calo no silêncio do desdizer quando acho necessário. Ainda sou indecisa. Ainda tenho as minhas convicções e argumentos próprios. Ainda vejo beleza no teu provérbio e na tua perna direita, naquela foto da lambreta. Ainda faço promessas só pra ver o teu riso de canto e a tua face de curiosidade. Ainda escrevo os meus delírios. Ainda falo bobagem e danço olhando para o nada. Ainda continuo na saga de não planejar, e isso também não muda.

Dois mil e oito, continuará deliciosamente assim.

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Ressalva: no âmago da literatura pseudo-verídica-nada-profissional.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Se o sistema não funciona, bota na conta do Papa!

Mais de 2 milhões de pessoas já assistiram o tão alardeado filme 'Tropa de Elite'. O detalhe fica por conta de que, além desse número alarmante, outros milhares tiveram acesso a película por meio de versões pirateadas.

Entenda-se por pirateadas todo um sistema: primeiro o filme original nasce na cabeça do diretor. Este escolhe os atores a dedo, idealiza as cenas, promove a produção da história e, enfim, consegue terminar o longa. Após muito trabalho - diga-se de passagem um bocado de trabalho, visto a falta de investimentos ao cinema nacional - esse mesmo diretor consegue algum patrocínio, o que fomenta a divulgação do filme.

No caminho inverso, a pirataria desenvolve uma ação parasita e rouba os direitos de seu verdadeiro criador. Com pouco esforço, grandes nomes do esquema que pirateia essas cópias adquirem um único exemplar da versão original - muitas vezes antes da chegada deste as telas do cinema - e reproduzem milhares de cópias. Afinal, a demanda por estes produtos é considerável e conta com um público cativo.

Enquanto o enredo do filme cai no clichê brasileiro de vários palavrões soltos em frases aplicáveis, que condenam a realidade banal do nosso país, a trama joga na cara do receptor 'sim, você faz parte do sistema'. Esse sistema, segundo o próprio 'Tropa', foi instalado para solucionar problemáticas nacionais. No entanto, o sistema (na prática) existiria para tentar estabelecer um controle que solucione os problemas desse mesmo sistema.

Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura, talvez não soubesse que aquele não é o único 'sistema' neste vão solo tupiniquim. Nós, brasileiros, gostamos de impor normas pelo simples prazer de quebrá-las.

[In]utilidade do Sistema

Diz a regra que a funcionalidade de um sistema é contribuir para organizar um todo; na polícia, por exemplo. Na política também seria. Nesse sentido, um assunto em especial me chama a atenção quando o comparo com outras notícias: a CPMF (Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores).

Para quem ainda não sabe, esse imposto nasceu sob argumento de (pseudo) imposto, que teria a prerrogativa de angariar mais fundos para auxiliar o Governo nos investimentos em saúde pública. Temos ai outro sistema. Podemos não percebê-lo, mas temos um.

A decisão do momento é falar absurdos que anunciam que sem a CPMF o sistema de gestão da política nacional vai por água a baixo, por falta de dinheiro. Ora, mas o nosso país já dispara perante os outros no que tange os impostos; porque então nos falta a verba que deveria provir desse pagamento?

A resposta é simples e está aos nossos olhos. Temos um sistema que não funciona. Ou pior, nenhum dos sistemas existentes para a organização e ordem do Brasil consegue desempenhar o seu papel.

A CPMF pode ser o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), assim como foi mostrado no 'Tropa'. O imposto age silenciosamente sob um mecanismo que atua na mesma sensibilidade de um projétil; ambos não avisam quando serão acionados, apenas fazem o que o sistema os manda. O fato é que tanto o imposto como o Bope são formas de sistemas em nosso país. Sistemas que não desempenham a sua real função.

O cidadão comum pode demonstrar que está de saco cheio de corrupção, cansado da violência, e do estado paralelo nas favelas. Porém, este cidadão não é capaz de nada enquanto for obsoleto ao sistema. Nem enquanto for cúmplice de uma cópia pirata, que retrate a ineficiência deste sistema que ele contribui para que continue do modo como está.

E quando falta competência, o jeito é colocar na conta do Papa, líder de outro sistema: o religioso.

Que Deus nos ajude!
+++

Anexo necessário: 45 versus 34, Brasil.

Esse texto fora desenvolvido para a matéria Redação B há um ligeiro tempo atrás. Talvez outubro, a memória é falha. Entretanto, estava devidamente guardado, na espera de momento mais oportuno para entrar [em colchetes]. Feito isso, agora me pergunto: essa é a hora?

domingo, 9 de dezembro de 2007

Veludo azul.

Filmes de cronologia barata em aspectos previsíveis sempre me fogem á mão. Ás vezes, claro, jogam-me para cima desses contos melodramáticos, com musiquinhas cativantes que não saem da nossa cabeça assim que ouvidas numa primeira vez.

Foi mais ou menos isso.

Tarde de outubro, muita ilusão na cabeça e a vontade de fazer nada falando alto. Em grito oposto, o João passa em casa, me joga dentro do seu carro e me enforca naquela sessão de cinema absurda na casa de algum amigo tosco dele.

- Essa que é a tua amiga? - perguntaram-lhe.
- A própria - disse João entre um 'Oi, beijo', com esse tal amigo que nos recepcionou.
- O João fala horrores de ti, guria.

Eu não sabia o que responder. Não mesmo. Esse tipo de situação de amigo que fala da amiga para os outros amigos que essa mesma amiga só conhece de nome não é o meu forte. Ah, sim, ser sociável á primeira vista também não.

Continuo:

- Não sei o que o J. fala de mim - suspirei alto.
- Não faço mistério, amor. Todo mundo sabe que eu te adoro um tanto - gritou J. na minha orelha, ao passo que me dava um abraço gostoso e me oferecia algo pra beber.

Enquanto percebo os detalhes do copo, com desenhos de caveiras e outras bizarrices tipicamente horror-show, um algo de interessante pede para ser visto do outro lado.

O modo como fingia não me olhar foi elemento propulsor para o meu encanto gratuito - além de me chamar a atenção pela camiseta com o Bowie na frente. Ele parecia ser mais velho, parecia ter controle e saber exatamente quando perdê-lo. Sentava-se de lado, e sentia um conforto absurdo com tudo aquilo. Amigos ou não, eu e o desconhecido em questão, estávamos sucintos por alguma tentativa de cinema.

Com um outro copo, me deixou na dúvida se bebia o mesmo que eu. E, dúvida por dúvida, tive vontade de saber do gosto.

- Tás bebendo o que?
- Prova. A Carol esqueceu o copo aqui do lado. Deu bobeira - sorriu.
- Forte. Hum, parece absinto.
- Isso, pode crer. Sem dúvidas: absinto. Sente?
- O quê?
- Perguntei se sente.
- Tá, essa parte eu entendi.
- E por que não responde.
- Responder o que?
- O que sente.
- Eu posso sentir tanto.

Não precisou de muito. Tinhas que ser tão cordial comigo, e corresponder ao meu cumprimento forçado? O pensamento instintivo me levou a acreditar que seria melhor ter recuado ao João horas antes, e ficado em casa pela eternidade.


[Parte II: da arte de não ligar no dia seguinte]

Sei que não tenho a elegância nem o modo certo de pedir; mas, por favor, não seja assim tão afável comigo. Não me olhe nos olhos, não me pegue pela barra da calça, não me tenha por cada segundo, e não me faça perder a vontade de assistir David Linch no momento em que conversamos em segredo.

Não me entenda quando eu quero dizer sim pelo não, ou vice-versa. E, definitivamente, não diga que tem a coleção completa de Tarantino na tua casa. Assim, dificultas o meu declínio pelo convite teu.

Não seja doce comigo, e nem me beije devagar. Faça tudo ao contrário, facilite o meu desapego. E, não seja o que és comigo. Afinal, o teu encanto já nivelou o inesperado.

Em frente à batalha, eu já sei de cor a tua seqüência.
Sem obrigação.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Manifesto anti-amor

Diz a lenda que quem fala mal do amor ou faça qualquer menção negativa a esse sentimento tão adorado pelos mortais é alguém muito infeliz e que, provavelmente, sofreu uma decepção amorosa recente daquelas de doer. Para variar um pouco e fugir dessas idéias pré-idealizadas, discordo de teorias que classificam esse tipo de comentário.

Não me considero diferente de qualquer outra criatura mundana - apesar de ter alguns pensamentos nada aceitáveis pela maioria. Nasci e fui criada em solo tupiniquim, pago uma quantia absurda em impostos para esse país; costumo ir em festinhas e/ou qualquer tipo de confraternização etílica, me divirto, me empolgo; e eu também me relaciono fisicamente, pessoalmente e amorosamente com uma freqüência satisfatória e bem feliz, se assim posso dizer. Então caro leitor, não se revolte com as críticas dissolvidas sobre um assunto que você usa como muleta, como ideologia, e usou para pegar alguém: o tal do amor.

O amor é o bom da vida, concordo. A minha mãe me ama, o meu cabeleireiro me ama e a minha cocker fica tão feliz quando me vê, que eu sinto que ela me ama também. No entanto, quem mais me surpreende no quesito 'me amar' é aquele cara do passado mais presente, boa pinta, bonito, cativante, que costuma achar graça quando faço manha e que, mesmo namorando, me liga só para avisar que me ama.

Ao que tudo indica, eu não tenho do que reclamar.

Contudo, o amor pode ser perigoso em alguns casos, acredite. As pessoas enxergam um mundo perfeito e ouvem passarinhos cantarolando, passam a acreditar que as coisas vão dar certo e criam expectativas de felicidade eterna por culpa dele.

O amor é plenitude, é êxtase. O amor é uma droga e como qualquer outra substância alucinógena provoca efeitos confortáveis ou não. Em excesso, o amor faz os apaixonados mudarem de atitude. O que, em termos, chega a ser compreensível, já que a maioria das pessoas se transforma quando se encontra nesse estado emocional. Mas, durante todos esses anos de vivência e prática amorosa pude perceber que comigo não é assim; e não me pergunte por quê.

Posso dizer que esse meu senso de auto-controle e auto-suficiência me deixam numa situação tranqüila. Não me sinto obrigada a ligar no dia seguinte e posso fingir com segurança que 'ele' é o dono da razão (sem ser). O meu revés se limita quando pareço estar cansada de assustar os homens com essa minha segurança sem limites, com esse meu alto poder de ser dona de mim mesma. Cansei de ser o máximo e o ponto mais alto, de ser um troféu inatingível e de ser difícil - tá, eu não cansei, mas achei cabível colocar isso no texto. Eu queria, por um só dia que fosse, ficar puta porque você não deu sinal de vida ou porque você esqueceu o dia que nos conhecemos. Porém, é tão simples e automático eu não me importar com isso.

Faço jus ao movimento daqueles que se amam sem pedir nada em troca, daqueles que se olham e se satisfazem por tudo que são, daqueles que não se comprometem e são mais felizes, daqueles que se comprometem e são tão felizes quanto, daqueles que distribuem sorrisos, daqueles que superam tomar um fora, daqueles que reformulam o vestuário quando querem, daqueles que nadam sem roupa, daqueles que entram no chuveiro acompanhados, daqueles que se doam, daqueles que não desperdiçam a liberdade, daqueles que não precisam do amor alheio para se amarem incondicionalmente.

domingo, 4 de novembro de 2007

Da arte de ser tia.

Ser tia é atravessar a rua com cuidado, para que nenhum carro em alta velocidade afronte tirar-lhe a vida antes de a sua sobrinha ter aquela tão sonhada festa de 15 anos. Ser tia é pensar no que os sobrinhos vão achar do tio que a tia escolheu para eles. Ainda mais quando esse tio é todo-doido, tattuado, com alargador nas orelhas, e tem cara de bravo.

Em outras palavras, essa que vos escreve é tia de uma sobrinha linda e de um sobrinho tão lindo quanto. Agora, para que o entendimento da história toda tenha a completude que o assunto pede, é necessário contá-la desde o seu início.

A minha saga como tia-me-dá-um-abraço começou cedo. Bem cedo, eu diria. Culpa da irmã que veio dar a notícia em 1994, e surpreendeu a pequena Talita recém saída do prézinho. 'Tudo bem, ser tia não deve doer nada'. E, eu não era aquele tipo de criança ciumenta, que não consegue conviver com outras crianças nem dividir os seus brinquedos com elas. Pelo contrário, a minha mãe conta com freqüência da minha sociabilidade desde quando eu era pequena. No entanto, hoje, admito que a minha cabeça podia ter ficado bastante confusa se eu pensasse demais na dimensão que é ser tia.

Para a grande maioria, ser tia não envolve apenas o fato de ter um sobrinho ou uma sobrinha. Ser tia, neste caso, é 'ficar para titia'; jargão muito usado para distinguir pessoas sem muita sorte com relacionamentos. Contudo, a minha perspectiva de vida nos anos 90 não conseguia pensar nisso, compreendia apenas a rotina: ir para a escola, brigar com o meu irmão mais velho, pensar no que eu queria ganhar de Natal, e outras coisas desse quilate - não com menos importância, friso; afinal, é na infância que se constrói uma cabeça bacana para agüentar a dualidade da adolescência e as futuras responsabilidades que se ganha quando as pessoas se tornam adultas.

Pois bem, tempos depois, vejo uma segurança tremenda na minha situação de ser tia. Aprendi um bocado. E, olha que eu nem sou tão museu assim. Acho incrível a amizade que tenho com a minha sobrinha. Ultrapassamos o limite sócio-cultural tia e sobrinha, somos boas amigas. Acho um barato quando a Raphaela vem me contar os casos da vida dela, os guris que acha bonito e os que já beijou, o medo que tem da mãe, as vontades que tem, os anseios, a perspectiva remota que considera que o seu mundo é cor de rosa e que tudo pode ser perfeito. Cerco-me de cuidados para respondê-la á altura, não deixá-la com mais dúvidas do que as que já tem. Imaginem a cabeça da minha querida: treze anos, 1.70 de altura, rosto novo, enfim. Uma rede de pensamentos de autonomia própria a perseguem. Mesmo assim, quanto á Rapha, acho que estamos bem.

Se por algum momento pensei que a minha cota de cordialidade com os filhos dos meus irmãos já excedia um limite, fui altamente surpreendida no ano passado. Minha irmã, que me deu aquela notícia em 94, veio me dizer o mesmo anos depois. Dessa vez, viria um menino. Antes que o pequeno nascesse, eu já imaginava o seu rostinho, se teria ou não covinhas, se ia me chamar de tia, se ia gostar de sorvete de baunilha (...) Uhum, a Talita pode ser declarada uma tia absurdamente coruja, e assumida.

O Ismael nasceu em abril do ano em que estamos. Parece ás vezes comigo, mas consegue ser tão diferente também. O Tiquinho é muito 8 ou 80, não consegue ficar parado. Gosta de danoninho de morango, e gosta de dengo. É intimista, não dá trela pra quem não conhece. E eu vejo tanta beleza nisso. Taurino, esse guri vai me ferrar a vida algum dia - eu bem sei que vai e não faço omissão. Tanta geniosidade vai me dar dor de cabeça; do mesmo jeito que a Rapha me deixa puta com o seu lado virgo de ser. Dois amores que eu quero ver crescer, com pensamentos próprios e pelo caminho que decidirem.

Em mais de uma década como tia, sinceramente, fiquei para titia. O detalhe eu deixo por conta dos tios que os meus sobrinhos vão poder escolher.

Ressalva: modéstia mandou lembrança, ein Talita?

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Conto da Sorte

Convidou-me pra um samba inocente. Pegou pela mão e colocou um copo na boca. Gole por gole, dissolvia um rascunho assobiado 'Ei, você vai casar comigo amanhã te avisaram?'. Num sorriso de lado, desfazia o melodrama e me deixava na promessa.

Na medida de um conto dizia: a rapariga que domar o coração desse guri não vai sentir mais dor de amor. E dor de amor só é dor quando dói em calma descompassada e leve, daquela dor que te faz querer mais dor. 'Por gentileza, que não tenha cura pra esse mal de amor que cabe nos teus olhos', gritava no peito.

Os deuses conspiraram ao pé do meu ouvido e pararam no tempo a resposta incontida. ‘Não há som melhor que o silêncio da tua respiração’. Cala-me numa partida breve e estamos sozinhos, de flor em flor. 'Me ensina a controlar esse ensejo', tentou dizer em 37 segundos contados.

(...)

Convidei pra um samba inocente. Peguei pela mão e coloquei um copo na boca. Gole por gole, esquecia a inocência e dissolvia uma frase direta 'Com amor não se brinca'. Teu sorriso de lado me entregava o melodrama.

Como história que cabe em rima, fiz teu poema solto; desses que dizem que o guri pode dominar o coração da rapariga. Dor que sente em chama, dor que a gente busca sem saber por quê. E quando sabe, a graça do amor se foi perdida. Deito-te em prosa, conversa fiada e tudo bem. Fora do teu círculo, eu seguro o nosso tempo desmedido.

Os deuses fizeram uma prece em segredo, anunciando a resposta sabida. Um pra lá, e outro de canto. O outro de canto e a rapariga com o coração do guri, para fazer o que bem entender nesses 37 segundos contados.

domingo, 14 de outubro de 2007

Chico;

Quero mais
Quero mais.
É tão simples abusar do meu espírito ingênuo
Já passaram mil romances, caravanas, sentimentos
Desarvorados
Num tempo sublime
Do verbo amar.
Amarei aquele que chegou
Pra não partir jamais.
Partiu,
Agora eu quero mais.

PS: Chico Buarque nunca é demais.

domingo, 9 de setembro de 2007

Café ou Chá?

Agosto costuma trazer um algo de estranho. Não por anteceder o meu Setembro preferido, mas, sim, por ser um mês de exclusiva solidão. Do primeiro dia ao trigésimo primeiro, Agosto me soa como uma inscontância. A começar pelo clima indefinido, morno: não sabe se quer ser quente ou se deixa abstrair pelo frio. No entanto, já que faz parte do calendário, deixemos viver. Com ou sem gosto.

Vejo pessoas, indo e vindo, voltando. Todas têm um rumo, ou procuram por um; nem que essa procura seja fadada ao fracasso. Algumas carregam sorrisos, outras preocupações. Quanto a mim, em Agosto, prefiro não admitir muito. Para fazer companhia, peco pela vontade e pelo o que há de curioso no que me cerca. Olho ao redor, do corredor vejo um rapaz prestes a acender um cigarro. Parece que o tabaco é meu também, por um detalhe talvez seria. Afinal, eu não fumo, nem tenho habilidade para tanto.

Esqueço o contorno do garoto e fito um detalhe paralelo. Apenas o observo enquanto traga aquele mínimo de combustão e bebe um café. A xícara branca não parece ser porcelana fina, muito menos o conteúdo não teria sido feito com grãos de uma safra dourada. No entanto, me apeteço e já sinto a temperatura do líquido negro a percorrer a garganta do jovem.

Diz a lenda que o café traz o ânimo e a vivacidade de volta. Aliás, a presença concentrada de cafeína explica tal fato. E isso assume um quê de novo para o meu Agosto, que antes refletia uma rotina cada vez mais rotina. Incito por um gole, levanto da cadeira e caminho em direção a Cafeteria. De longe, já sinto o aroma se dissolvendo em algum bule aquecido:

- Moça, o que vai querer: café ou chá?
- Um café agora, e outro para vida.

sábado, 1 de setembro de 2007

PORTISHEAD


'Te cabe no meu peito,
te esconde aqui dentro e eu prometo sossegar.'

Um dia essas palavras saíram pelo ar em movimentos de dança vindas do infinito do teu ego. Nem pensava que tu ousarias em dizer. Na beleza de ouvi-lás, faltou-me uma resposta á altura. Melhor: quem deveria questionar-te sobre o fato era eu; a minha boca dissolveria no encanto da promessa.

Que não seja por falta de ensejo, pois venha ouvir o meu estrado em forma de segredo. Que não seja por falta de zelo, leva contigo o meu pensar, a minha altura sobressalente e a minha falta de sono quando me revelo em fuso horário. Que seja feita a tua vontade, pelo meu desejo.

Á parte o teu colo, a tua cor que difere dos outros, aceito a condição. Não por condicionar-me em latitudes quilométricas ou por um oceano de distância - mesmo que essa distância se fizesse em único grão de areia do teu mar -, mas, sim por toda valia que existe em ver o sorriso de canto e sentir cada vez mais.

Se o sonho pode guardar essa lembrança, imagine uma ligação minha antes do sol se pôr. Aceite o meu convite, que o vinho fará companhia. Conte-me da vida, da tua história e do teu ser. Enquanto omito uma conversa, adivinho cada metro cúbico da tua pele por entre a camisa quadriculada.

Simulo a queda, e caio em ti.
Agora, podes morar junto a mim.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Uma ou outra.

para o (in) comum, ouvido é pouco.
olhos se esforçando pra ver
descobrir asas arde
na liberdade que é.

(...)

acorda sono antigo
que nascer já nos foi dado
se o imaginado nunca foi vivido
e se ainda está não olhe
resguarde o segredo inacabado
e viva o que pode vir a ser novo encontrado
jardins suspensos te aguardam
no mais além do que tens sonhado.

em protesto: rasgue o peito;
refluxo encantado,
e esqueça sempre tudo que tens guardado
inaugure o amor todos os dias
só assim o sentirá validado.

por N.L.



PS: antes e depois de Miró.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

O sorriso de Norma Jeane

Há quem diga que o sorriso mais belo e conhecido nesta galáxia seja o riso enigmático e cheio de mistérios presente na obra de Leonardo Da Vinci, em suma: a perfeição estaria no rosto de Mona Lisa. Da Vinci denota, no quadro, uma mulher com um ar introspectivo e um tanto quanto tímido. A beleza restrita de Mona Lisa intriga por seu teor de sedução estritamente conservador. Discussões e comentários felizes quanto à arte do italiano são notáveis. Contudo, Mona Lisa pode ser conhecida, aclamada, e ter ficado na parede de Napoleão Bonaparte, mas não tem o sorriso de Norma Jeane. Algo de brilho único e doce, em uma escuridão de segredos de uma pessoa envergonhada e despudorada simultaneamente.

Trata-se da filha de Gladys Monroe Baker, nascida em um de junho de 1926. No entanto, a probabilidade de você identificar um dos sorrisos mais belos já vistos entre os mortais, vai longe por essa informação. Agora, se lembrar da estrela ofuscante de "O Pecado Mora ao Lado", em cena, de uma mulher com as pernas e a calcinha a mostra por conta de um ligeiro levante de seu vestido branco, de súbito terá no encanto da lembrança Marilyn Monroe.

Um sorriso triste e melancólico; cuja infância se deu com um pai desconhecido, uma mãe cortadora de negativos em um estúdio, e passagens por orfanatos e lares de adoção. Aos 16, já era senhora casada, tendo como primeiro marido um rapaz de 21 anos a quem chamava de "papai" - por falta de um, talvez. Enquanto "papai" estava na guerra, na década de 40, Norma inicia a sua carreira de modelo. Em um ano, torna-se capa de mais de trinta revistas.

O começo de uma estrela, com aquele mesmo sorriso; com um quê de melancolia e atração. Mesmo após a mudança de nome para Marilyn Monroe, Norma Jeane Mortenson não consegue abandonar a sua essência de beleza e sorriso afável. Certas coisas nos acompanham a vida inteira, e Marilyn ainda gostava de ser abraçada, era inocente e via pureza nas banalidades mais simples. Em meio a inocência, Marilyn ficou nua sobre um veludo vermelho, no que seria o pôster principal da primeira edição da Playboy. Além disso, ganhou a sua marca na calçada da fama em Hollywood. Tudo isso em 1950.

Aos 36 anos, Marilyn Monroe tem uma morte cercada de boatos e teorias conspiratórias. No entanto, deixo de lado a tangência triste da inexistência física da atriz destaque de "Quanto Mais Quente Melhor", prefiro roubar saudações nostálgicas que revelam que nela tinha amor, entrega e sentidos. Da ascensão á queda, do primeiro ao terceiro casamento, e cercada por garrafas de champanhe. Do sucesso, o fotógrafo Bert Stern conseguiu fazer um ensaio que ultrapassou a lente da sensualidade e mostrou não somente uma mulher bonita, mas a bela em estado sublime. Algo de intocável e irremediavelmente dela: o sorriso de Norma Jeane.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

A fraude do ano.

Em solo tupiniquim, me parece ser mais fácil apelar para a mentira do que ser gradual em verdades formais e informais. Tem-se o exemplo de um senador que requer a um lobista para angariar fundos e pagar uma pensão abastada á sua filha, fruto de um caso extraconjugal - mas a criança (destaco) não tem a menor culpa por isso. Dessa forma, fica fácil encontrar outros exemplos nada válidos por Brasília e em qualquer outro canto deste ‘vão solo, és mãe gentil’. Tomemos Renan Calheiros novamente (tic). Que sorte tem este homem! Deveríamos tê-lo obrigado a ser o presidente da nossa nação. Afinal, aquele que ganhou o cargo de forma lícita e com o voto do povo, não tem tanta sorte assim. Traço um paralelo disso com a minha humilde existência e acredito que o mais cabível e sensato no momento seria abandonar a faculdade e investir na criação de gado. Que me perdoem o trocadilho infeliz os que o acharem assim.

Felicidade e mais um título. A seleção de amarelo ganhou a tal Copa América - e dos argentinos, ainda por cima. Parabéns (ou não). A questão a se refletir é que o futebol serve como um termômetro para os brasileiros. Se o time ganha, ótimo para comemorar, a vida vai dar certo, as coisas se ajeitam; já o contrário, se o time perde, foi feito algum feitiço contra os jogadores, a culpa é da sogra que estava na sala e falou ininterruptamente durante os 45 minutos de jogo, enfim: arranja-se uma desculpa para as falhas e para o mau desempenho e falta de vontade dos canarinhos futebolísticos. Mentira ou verdade, brasileiro pode gostar de esporte, futebol e qualquer outra atividade do tipo. O que não vale é acreditar demais nisso. Ainda na editoria esportiva, não consigo encontrar uma explicação plausível que justifique as vaias recebidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura dos jogos Pan Americanos. O que Lula haveria feito de tão grave para tamanha rejeição em público?

Contudo, nem só de mentiras reais esse mundo em que vivemos respira. Á parte do mundo de verdade, temos também aquelas mentiras tipo fraude. É a espécie de fato mentiroso que nós fazemos figa, mandinga, simpatia, etc., para acontecer. Porque, sinceramente, eu quero acreditar que a Björk está incluída na lista do Tim Festival desse ano. Ok, agora é o momento cabível para críticas alheias. Sei que tudo quanto é site, revista, folheto, torpedo, sinal de fumaça, sinaliza que alguns nomes até então inimagináveis da música mundial já estão confirmados para fazerem visita solene e profissional ao nosso amável Brasil. Destaco dentre os delírios previamente ‘confirmados’ Arctic Monkeys, The Killers, Juliette Lewis & The Licks (meu mais recente vício assumido), Antony and the Johnsons, Girl Talk, e a própria Björk - já citada. Outra: Nouvelle Vague divulgou no myspace oficial da banda, que a aterrissagem dos gringos acontece em setembro deste ano! Outros queridinhos mais queridos como Hot Chip, Kaiser Chiefs e a inglesa etílica Amy Winehouse ainda compõem a lista dos sonhos e ilusões. Boato ou não, se pudesse optar, gostaria que todos esses nomes encantados fossem mentiras, daquelas que se tornam verdades absolutas. Ainda existe uma lista de cogitados. Não a citarei, pois já seria uma viagem lisérgica sem proporções.

Por fim, um último tópico: a amizade eterna do presidente da Venezuela, Hugo Chávez e do presidente do lado de cá, teve uma queda. Algo assim, como um pequeno atrito, visto que o vínculo entre ambos não vem sendo lá muito expressivo e amoroso como era em tempos atrás. Chávez pode receber todos os comentários negativos possíveis, mas não é nada ingênuo. Muito menos Lula.

Tão cedo, atribuir o caos aéreo - vulgo instabilidade interplanetária - e outros quesitos referentes á aviação nacional é uma tristeza sem pesares. Calo-me em um silêncio que pode doer nos ouvidos. Falta de caráter e investimento são notáveis ou seria o progresso do país em bom tom? É de se pensar á respeito.

Por enquanto, aposta em qual fraude para esse ano?

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Sonhos e 'Os Sonhadores'

França, cinema, garrafas de vinho, sexo, rock, Godard, e três jovens assiduamente belos, podem servir de temática para uma história com facilidade considerável. Elementos a altura para a criação de um filme não faltam. Foi mais ou menos por isso, ou bem mais que isso, que 'Os Sonhadores' mostrou-se de interesse para esta que vos escreve. Tomadas leves e atraentes saídas da cabeça do diretor Bernardo Bertolucci - famoso pelo agraciado 'Último Tango em Paris' - tornam a película ainda mais vibrante e cheia de detalhes pequenos, grandes, e cativos. Porém, não me atrevo a soar como cineasta (que não sou) ou cinéfila (por devoção, apenas), uma vez que cinema está muito além dos meus conhecimentos técnicos. Porém, como pseudo-amante da arte, acho cabível tecer argumentos pendentes. Ainda mais, depois de assistir a trama e pensar em uma série de outras coisas, ligadas ou não ao filme.

'Os Sonhadores' supera as críticas iniciais que o público registrou. Ouvir comentários tendenciosos referentes aos cartazes do filme, que dão margem suave ao romance e ligações amorosas protagonizados, ainda é pouco. Dois irmãos gêmeos: logo Isabelle (Eva Green) e Theo (Louis Garrel). Ambos viciados em cinema; filhos de uma inglesa e de um pai-poeta-francês demasiadamente pensador; e habitantes de uma casa que poderia ser apenas uma casa, mas não é. Quase no final da década de 60, esses gêmeos siameses conhecem Matthew (Michael Pitt), americano que vai á Paris para estudar e se apaixona pela cultura que os ares parisienses inspiram. O roteiro segue basicamente este caminho.

Contudo, a armadilha de 'Os Sonhadores' não se prende apenas aos corpos dos jovens, que ficam á mostra com uma freqüência considerável, ou ás loucuras que os três discutem nas cenas. O título não serve de pano de fundo. Bertolucci teve mais do que sorte em optar por tal escolha. Os sonhadores somos nós, durante as quase duas horas de enredo. Em uma época revolucionária, cercada de dramas e sorrisos aleatórios, torna-se irremediável não se envolver no conteúdo e nas vidas dos adolescentes. Com 'Os Sonhadores', á época de 1968, na mesma Paris de hoje, um protesto estudantil em nuances de política á favor do cinema é abordado. Revolucionários dão início a um manifesto em favor da arte e da liberdade que desperta a alma juvenil - independentemente da idade que se tem. E mais, o filme foi rodado em 2004, no entanto ainda apresenta um teor de atualidade visível. Na França mesmo que seja, para não perdermos o foco, jovens ainda protestam e se revoltam perante á política e a todo o sistema que cerne a vida pública da sociedade. Nota-se a realidade do passado, e a que vivemos nos tempos de hoje.

Para quem sofre em busca de filmes clássicos nas locadoras á fora, 'Os Sonhadores' é novo e antropofágico do que já aconteceu. Simultaneamente. Enquanto Matthew, Isabelle e Theo dividem a mesma banheira e se concentram em observar os traços alheios, você provavelmente se perde no diálogo dos três e parece estar naquela banheira também.

"Agora você é um de nós".

PS: um brinde ao melhor do ócio universitário.

sábado, 7 de julho de 2007

Desatino e espelhos

Abrir o diário. As paredes em nuances perspectivas e o som alto, tocando qualquer sonoridade já conhecida pelos vizinhos. O sono é estático, desejo de não dormir – propositalmente – só para ver o Sol invadir o travesseiro em forma de abraço. Estupidez, pura bobagem.

A conversa é atrativa, imaginando o dono dos olhos que está do outro lado:

– Acho muito louco, isso de ficar pensando sem assunto determinado. Só por pensar, esse é o barato. Agora, escolher é imprevisível.
– Eu até entendo. Escolher envolve pensamentos (...)
– Sim. Mas, pra pensar você tem um controle. Pra escolher, não.
– Concordo em termos contigo, guri. Só que, pior que escolher é ter vontade. A gente não sabe de onde ela vem e tal. Escolhas, em sua maioria, sempre partem de um fundamento. Agora, me explica o mecanismo das vontades e eu prometo te deixar bêbado.

E ele a achou inteligente – pura tolice etílica. Por diferença, até falou 'boa noite, beijos'. Ela se contorceu em risadas.

Um dia a mais, um trago a mais. Aquele sorriso desmedido, entregue em mensagens sem entrega, soando complexo. Sem ter o que fazer por cabimento ávido. Os dias soltos, em hiatos desesperados, fazem da roteirista uma melodia instintiva; ela acabara de receber um rascunho premeditado em verdades já conhecidas:

"Sempre evitei ser rude contigo. Tratá-la com um desprezo que não és merecedora. Por ora, és tu que fazes o bem de mim, e me tira o mal sem assumir. O que me intriga é saber do vício que tenho nesse teu ar, que respiro roubado de ti. Sinto-me incabivelmente satisfeito com o teu olho brilhando de longe, e a tua pupila mirando alto os sonhos teus. Sonhos que queria ter, por devoção ao teu ego. Não sou poeta, por falha genética, me caibo em números e porcentagens, porém me habituo em ler Chico por ti. No entanto, meus escritos figuram fórmulas, tentativa e erro, pois não tenho o vínculo á palavra. Me atrevo porque és ousada ao máximo. E essa minha mania de pegá-la desprevenida e demonstrar que tu também tens um pouco de mim não funciona, por conta da tua liberdade domada. Poderia eu, me transformar em delegado e escravizá-la ao meu encanto. Contudo, és livre e doce. Tens a graça no jeito de andar sem dono algum."

Após a breve leitura, ela dobra o papel e o guarda dentro de um livro qualquer. Volta ao caminho, como se nada tivesse ocorrido.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Cinema Mudo

A maioria das pessoas se priva de sonhar, ou morre por medo disso. Pensei em alguma coisa parecida logo cedo, após conhecer - numa coincidência feliz ou não - um garoto que estudava cinema.

Ele queria filmar tragédias na África, bebia sem pudores e tinha o dom de abraçar o mundo. Não me prendi ao detalhe do sorriso que ele tinha, nem ao semblante sarcástico que ele mostrava ao acender um cigarro. Contudo, admito que por um tempo - por um bom tempo - me vi dissecando olhares, cercando as suas costas, a sua cintura, e abraçando-o num impulso que eu já não podia controlar.

Fui direcionada a imaginar um dia, em que eu acordaria com aquele perfume do meu lado e o seu all star de couro branco jogado circunstancialmente. Sem pensar nos meus desejos ou no que eu queria fazer naquele dia, eu tomaria o cuidado de sair da cama sem acordá-lo, me vestiria e, muito provavelmente, abandonaria aquele quarto sem deixar um bilhete ou o número do meu telefone, esperando que ele ligasse de volta.

O meu sonho estaria inerte e não nos veríamos sob hipótese alguma. Isso, se ele já não tivesse roubado algo que me pertencia. A propósito, isso de roubar e 'facilitar' o furto é uma questão abrangente demais para este texto.

No entanto, ás 17 horas do dia seguinte, ele surgiria (como chuva sem aviso) e entraria pela sala, sem pedir licença:

- Pensei que tivesse sido importante.
- Mas foi. Só que de outro jeito (...)
- De que jeito então?
- Não sei. Não consigo te explicar.

Sem maiores discursos, já estaríamos trocando confidências. Como na vez em que ele me convidou para dançar Nancy Sinatra, e eu aceitei.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Pensamentos bonitos á parte, hoje é segunda-feira

'Música turva, sofá do lado esquerdo da sala, a TV desligada e a sua voz falando baixo. No canto do ouvido, desperto qualquer sentimentalidade absurda - sim, todas as sentimentalidades são absurdas, e o grande barato é esse. Qualquer outro poeta já deve ter mencionado que o coração é inevitável. E mais, não se espera dele o zelo da proteção. O coração é vulnerável.'

O meu texto desponta lembranças que ecoam todo o dia. Os amigos mais queridos, as pessoas que ainda me fazem falta, os amores incorrigíveis e aquela sensação habitual: o frio na barriga quando vejo o teu melhor. O estranho é que ainda me questionam sobre paixões decorridas, parceiros recentes ou se o meu amor já foi tomado. Respondo que não. A segurança é maior ainda. O meu declínio é descompassado. Não me basta estar em estado de súbita amorosidade ou algo do gênero. Já me convém a riqueza de seguir o rumo incerto, de uma vida incerta, sem um ponto de chegada. Aquele gosto de individualidade, um pouco egocêntrico - que seja-, não me foge aos olhos: a minha propriedade.

[no anonimato da sentimentalidade mais absurda do mundo]

terça-feira, 10 de abril de 2007

Todos são outros.

Véspera de fim de semana pra mim começa na quarta-feira. Sempre tem alguma baladinha boa, com bebidas tão boas quanto. Falando em bebida, é engraçado. Digamos que 90% dos meus amigos me consideram uma degustadora convicta, os outros 10% já têm certeza. Mas, isso não me soa divertido quando a minha mãe se encaixa neste grupo que já não duvida do meu potencial etílico.

Essa história se confirmou num episódio a parte. Ganhei uma garrafa de tequila - das boas - do meu cunhado e, para comemorar o ano novo, prometi que viraria 12 doses em menção aos próximos doze meses que estavam por vir. Na contagem regressiva, extrapolei e filei dezesseis 'caballitos'. Se me questionarem a respeito do dia seguinte, respondo que o resultado dessa experiência não vem ao caso. No entanto foi válido, o meu comportamento se mostrou bem social, afinal eu sei me conter quando preciso. Só não sugiro que pessoas amadoras façam isso, exige todo um preparo físico para trabalhar a resistência do corpo, leva um tempo. O exemplo acima foi dissertado apenas para a construção de uma abertura, para que eu pudesse chegar ao ponto que desejo com esse texto.

A minha paixão pela tequila tem culpado, motivo, razão e local especifico. Esse life-style made in mexico começou em algum sábado do mês de Dezembro, em um tipo de inferninho na Barra Funda - SP. Uma dose, duas doses, três é par. Ponto. Voltei para casa com uma felicidade incontida no peito, fiquei assim por semanas.

Inusitado considerar uma mistura destilada de agave, uma planta originária da América Central, tão relevante assim no atual contexto em que me enquadro. Tequila só me provocou ressaca ou sintomas do tipo quando me empolguei e cometi exageros. De forma parecida, minhas ressacas morais também aparecem sob o âmbito do exagero, quando abuso o melhor ou o pior das pessoas e das situações.

Um sorriso irônico desponta pelo meu rosto agora, quando lembro que já fiquei um mês sem beber tequila. Não por determinação própria, mas é que não me fazia falta a 'vida tequilana' quando estava com um certo alguém policiando o meu coração. Quem conhece o ritual, sabe que para beber tequila é preciso colocar sal em torno da mão, lambê-lo, virar o copo rapidamente e morder um limão. Comparando-nos a isso, era o que nós fazíamos com o nosso afeto. Os agrados mais intensos, na rotatividade de segundos imedidos; as brigas mais tolas, pelas reconciliações mais comprometedoras; e, é interessante captar esse mecanismo, mesmo quando se encontra em estado inerte, e com chances de término elevadas.

A propósito, certas coisas terminam para que outras comecem. Não posso concretizar que não tenho mais afinco em saber a localização exata dos teus detalhes. Ainda assim, o meu começo é contínuo. Pessoas vêm e vão. Algumas ficam mais do que as outras; algumas se tornam extremamente especiais, outras não. O fato, agora, é que você é mais um. Mais um, para todos os outros. Até que um outro aceite a minha condição de liberdade eterna, de amor livre e toda essa minha ideologia.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Essa ânsia de querer sempre mais, ainda vai nos levar além.

Os dias foram passando, esculpidos numa cerâmica fria e inerte. As páginas nunca estavam escritas. Nada para se ler, nenhum ponto de referência para que os olhos fugissem.

E toda essa alegria inconstante, que eu já não consigo e nem faço questão de esconder, incomoda quem me tem para o mal.

Sintetizo os últimos dias numa só palavra:
intensidade,
intensidade,
e intensidade.

Quem vive de metades não se conhece por inteiro.

[só não esqueça de fechar a porta]

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Deus é brasileiro e a cerveja também

A cerveja é preferência nacional dos brasileiros. Trata-se de uma bebida fermentada com baixo teor alcoólico - uma latinha de cerveja tem em média 6% de álcool e por volta de 130 calorias. Em meio a esse vício em forma de líquido, temos uma indústria cervejeira que fatura bilhões e, que desenvolve campanhas publicitárias formuladas, visando inflar ainda mais as vendas.

Muito antes de chegar em nosso país, a cerveja já era conhecida por sumérios, egípcios e mesopotâmios, desde pelo menos 4 000 a.C. Contudo, de fato, a "loira", como fora apelidada em solo tupiniquim, é de longe a bebida mais procurada por aqui. Mas, o intrigante é achar uma resposta satisfatória sobre a adoração que os brasileiros têm por essa mistura feita à base de cevada.

A ligação existente com a cultura caracteristicamente brasileira explica tal questionamento. Num país cujo povo é feliz com futebol, samba e festa, a cerveja cai como uma luva. É razão para que amigos se reúnam aos fins de semana, conversem e bebam juntos sem preocupações maiores. Aqui, a cerveja é tratada diferente das outras bebidas, pois serve para compartilhar momentos. Não é considerada uma bebida "individual", como a tequila, a vodca, drinks, etc.

Aproveitando essa sutil idéia de confraternização que a cerveja possuí perante a sociedade, as empresas fazem uso de mecanismos persuasivos que induzam o consumidor a optar pelo seu produto, ressaltando a sua marca. Sendo assim, as cervejeiras não são mais meras fábricas de cerveja. Elas também são fábricas de conceitos de cerveja, visto que, quando o produto é distribuído, rotulado, pronto para ser bebido; além de tais elementos, a cerveja carrega consigo a ideologia da empresa. Já nos anúncios veiculados em todo tipo de mídia, o objetivo é demonstrar um clima de diversão. Além de algumas propagandas, incitarem o lado sexual do produto. Como se uma pessoa que bebesse a cerveja X, ficasse mais bonita e atraente do que a pessoa que consome a lata da concorrência.

Sabe-se que a primeira indústria cervejeira foi fundada em 1888. Porém, não cabe a data de fundação da empresa a explicação sobre o poder que a cerveja exerce sobre o consumidor; a ponto de geladeiras de todo o país ficarem abarrotadas de latinhas. Em suma, concluí-se que, pela idéia transmitida em campanhas publicitárias, bem como pela cultura nacional, a cerveja tem espaço garantido na vida dos brasileiros.

PS: cerveja pode lembrar carnaval ou qualquer reunião. Me lembra, e muito! Mesmo não gostando de beber tal néctar dourado, tenho amigos queridissimos que são adeptos da breja life-style. Em todo caso, tô com Chico B. : 'Carnaval, desengano. Deixei a dor em casa me esperando. E brinquei e gritei e fui vestido de rei. Quarta-feira sempre desce o pano'.

[texto escrito originalmente a pedido de uma professora 'louca' e conservadora de língua portuguesa, em um semestre passado da academia]

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

mais do [live] journal

Conceito é conceito, portanto tais significados devem ser citados:

colchetes sm.pl. Parênteses formados de linhas retas;

sadomasoquismo sm. Perversão sexual que associa os impulsos sexuais agressivos do sadismo e do masoquismo;

intelectual adj. 1. Relativo ao intelecto. 2. Que tem dotes de espírito, de inteligência. 3. Pessoa devotada ás coisas do espírito, da inteligência.

Em suma, tudo o que vier a ser postado, discutido, elaborado, jogado ao vento, etc., etc., e etc., por intermédio deste blog deve ser considerado 'pensamento livre'.

ps: a palavra 'sadomasoquismo' foi usada exatamente para frisar o intuito de liberdade, que serve como proposta básica e temática para isso aqui. Portanto, é utilizada apenas como metáfora e não apresenta nenhuma conotação sexual.

Qual a graça de explicar tudo?
Que sejam iniciados os trabalhos [entre colchetes].

Rascunho

Eu tenho medo dos meus sonhos. Medo simples, dissolúvel e com uma única explicação: a maioria deles costuma acontecer. Já me peguei pensando uma ilusão muito grande, digo ilusão por não imaginar que tal feito aconteceria. E aconteceu. Não somente nessa vez, mas outras tantas. Devido a esses fatos – que nem o subconsciente desta mente incansável denota sentido – passei a temer o sono, ou melhor, a conseqüência dele. No meu caso, dormir e sonhar andam de mãos dadas e bebem cosmopolitan sem se preocupar com as culpas imorais do outro dia.

Meus ideais não são do tipo que se arrependem, que não fazem por medo; não dão a mínima á opiniões alheias e têm prazer em fugir do que normatiza. O politicamente (in)correto vem em doses bem servidas de amor, de vontade e de tudo isso que essas duas sensações podem trazer. Amor no que tange a auto-suficiência, devotar-se pelo corpo e se aprofundar nele. Nada de compartilhar doçura e carinho com quem não ousa, não faz por merecer de alguma forma. Já a vontade se faz sozinha, surge pelos seres menos prováveis e não tem explicação de onde vem nem pra onde vai.

Prefiro parar com estes escritos, por enquanto. Ontem eu tive um sonho, e foi tão fugaz. Clichê seria afirmar que parecera 'tão real'. Contudo, fora um sonho em meio a uma noite bem dormida. Por ora, não me preocupo. Os meus sonhos refletem o que eu quero e o que eu vou ter.

Por incrível que pareça, acordei com o mesmo gosto (...)

postado [originalmente] em: 6 de Fevereiro de 2007 ás 19:36

segundo;

[ganhou outra importância]

postado [originalmente] em: 24 de Janeiro de 2007 ás 02:11

primeiro;

1. Falta de tino, de juízo; loucura.
2. Ato ou palavra de desatinado.

'Sucessão de fatos que podem ou não ocorrer, e que constituem a vida do homem, considerados como resultantes de causas independentes de sua vontade; sorte, fado.'

[o futuro]

postado [originalmente] em: 24 de Janeiro de 2007 ás 01:44

Quando chega dezembro

Clamores natalinos (tsc tsc), todas aquelas luzes na cidade e a leva de clichês de todo ano me fazem escrever agora. A propósito, sem certeza, afirmo que boa parte do que fora sublinhado por aqui é cercada de fatos não previsíveis e com um teor de atualidade embriagante. Posso ser uma fábrica de clichês; enquanto eu tiver o controle isso é bom – e vício é vício, sempre.

A temporada 2006 foi inexorável, para não falar outra coisa. Digamos que 80% dos planos pensados meticulosamente não foram colocados em prática. Isso significa que os outros 20% restantes foram? Não. Digo 'não' sem dor alguma, pois tudo acontecera atipicamente, da melhor maneira e do jeito que eu mais gosto. Quem me conhece bem, sabe que a falta de rumo é algo encantador para mim, de verdade.

A guria conhecida como 'aquela do piercing no nariz' fez muita brincadeira com essa vida. Descobriu que o mundo é um moinho repleto de segundos, cabendo a ela buscar pelo seu tempo e fazê-lo valer. Segurava o relógio com os dedos, prendia cada milésimo.

Arrumou o que fazer, depois desfez. Não ficou parada. Mania de foto em preto e branco, só não mostrou para ninguém. Percebeu que não gosta de atender ao telefone, contudo, adora ligar para ouvir a voz dele. Dançou com muitos ‘alguéns’ – dançaria mais, dançaria com todo mundo e levaria um tudo de cada. Evoluiu, musicalmente falando. Aceitou alguns convites e até fugiu de um deles. Ainda gosta de vodka com energético. Gosta mais ainda de tequila. Tattuou pra vida inteira. Adquiriu uma adoração repentina por psicologia. Casou por amor e pediu divórcio pela liberdade. Ficou feliz, mas não chorou nem por alegria; complexidade elevada, bem a cara dela.

Cantadinhas baratas, bebidas quentes, pessoas quentes. Cercada por almas pensantes, dessas que gostam de ler as crônicas de Xico Sá e ouvem Björk. Conheceu figuras que nem ousaria idealizar. Aliás, essas pessoas 'não idealizadas' são as que costumam gerar reflexões desmedidas e que não a deixaram dormir algumas vezes.

Faltou fôlego na hora. A vontade ficou de graça, não foi embora nem no final do ano. Clichê por clichê, isso não muda e ela adora.

Mais 365 dias desproporcionais, ao som de Stereophonics, de muitos rascunhos e teorias absolutas.

A propósito, sabe a recente paixão assumida pela prática da psicologia? Isso tem a ver com a sina atribuída ás vontades de todo dia, uma de cada vez ou todas num turbilhão etílico.

Quero tudo isso por muito tempo, ponto.

postado [originalmente] em: 28 de Dezembro de 2006 ás 16:36

Suburban Striders

Não importa o que disse na última vez. Prometi-me não escrever sobre isso, nada disso. Não queria gastar palavras, nem o meu vocabulário sádio pra dizer: você é foda! O estilo atônito que me tomava, era simples. Tu não és o primeiro em nada – quase nada.

Quantos outros já não me trouxeram as mesmas sensações? Tanta semelhança, pra pouca explicação lógica. De fato, confesso, você me consome em demasia; seja pelo dragão tatuado ou pelas estrelas na canela.

Adivinho, arrisco, não arrisco. Desligo o telefone só pra não ter que atendê-lo. Mando e-mail. Não respondo. Silencio o teu melhor. Gasto o meu tempo. Perco esse tempo.

'Sometimes is never quite enough
If you're flawless, then you'll win my love
Don't forget to win first place
Don't forget to keep that smile on your face

Be a good boy
Try a little harder
You've got to measure up
And make me prouder'

Incrível lembrar disso agora.

PS: o título tem dono.

postado [originalmente] em: 8 de Dezembro de 2006 ás 02:18

desire.

[Estação: Novembro]

Cuidando do jardim que lhe fora dado. Regava as plantinhas com todo o zelo, como quem cuida de um amor; daqueles que dá vontade de guardar num potinho, lançar a chave e rogar para que aconteça no tempo certo. Bem dito: tempo; que se move sozinho e sorrateiro, brinca com os sorrisos, enfeitiça a dona do jardim e vai embora. Cada capítulo se faz quando se permite olhar ao redor. Pessoas bonitas – por fora, por dentro, pelos lados – um resumo de você. Me afinco em convidá-lo a morar em meus olhos, mas acabo por me proteger de qualquer sensação tua.

Brisa. A saída noturna, para qualquer lugar. Ela colocou o melhor de si, beleza materializada em fragrância doce. Um corpo a mais, uma bebida a mais e qualquer verdade é bem vista. Aliás, todos aceitam mentiras com mais facilidade. Porém, mesmo podendo causar algum tipo de reação, a verdade era fato. Digo, a verdade dela.

"Tudo tem um fim, a gente sabe", disse em uma frase escondida.

Idéias dissolvidas em abstrações subjetivas, esse tipo de diálogo é atraente. Há tanto prazer nisso, em vê-lo sofrer.

Hora certa, pessoa errada.
Hora errada, pessoa certa.

Prefiro errar na hora certa.

postado [originalmente] em: 2 de Novembro de 2006 ás 23:50

dessert;

quando eu digo 'tiro';
você diz 'casamento',
isso sim, é contradição.

postado [originalmente] em: 25 de Outubro de 2006 ás 04:58

desert;

não me enterro em textos;
não ouse cogitar essa possibilidade.
quer julgar, julgue.
mas, não duvide da sua opinião.

ou, eu me irrito com a tua hipocrisia.

se te vale um conselho (ou algo do gênero):
abra qualquer rastro do teu pensamento;
seja o jardim,
se prontifique;
encha o teu corpo;
e se questione quando puder.

postado [originalmente] em: 26 de Agosto de 2006 ás 23:28

Rio de Janeiro

Buscando o anonimato. Privando-me de emoções. Sem querer ser importante o suficiente pra quem é motivo de importância absoluta. Muito pra mim, ainda é tão pouco. Tuas mudanças me alegram, mas não o bastante. Queria tanto você por perto, bem perto:

– Quem te disse?

O som da tua voz entorpece e refugia precipícios invisíveis. Cabe como rima em decassílabos poéticos ou em alguma melodia pra qualquer música que remeta os meus sentidos.

O texto decorado é esquecido, pois não me cobraras atuações teatrais – embora estivesse presente na cena, como eu desejava. Meus desejos, aliás, serão divididos á partir de amanhã, e depois de amanhã e depois e depois e depois de amanhã. E o fim será repetitivo.

postado [originalmente] em: 24 de Julho de 2006 ás 23:19

Bebendo vinho e matando o tempo.

Escrevo não somente pelas palavras, ou por qualquer emoção que estas podem trazer. Escrevo pra calar o teu silêncio. Algo que me paralizou momentâneamente, assim foi. Peças se juntam e formam o que já não tinha mais sentido. Suma de mim! Corroa outro lugar! Minha mente se desfaz a cada vez que o mesmo ressurge. E porquê? Escrevo para que as letras tenham melodia e que aglutinadas, sejam felizes (...) Escrevo fingindo que não lerá esses escritos. Entretanto sei que, quando passar por estas, não terá dúvida.

Escrevi pra quem mereceu.

Nem que por uma hora. Tinha contado mais de duas horas em vão; em que as palavras se dissolveram de maneira rápida. Fora cativante desde a primeira interrogação. Depois da segunda, eu já vendia respostas por um preço barato. Você poderia pagar por qualquer verdade que quisesse, eu deixaria. Escrevo pela ânsia, pela palpitação. Nada disso vive mais. O tempo fugiu sem lamentações. Só o seu sorriso ficou.

postado [originalmente] em: 23 de Abril de 2006 ás 01:36

[play the game]

Certa vez me peguei observando detalhes. Não só o contorno dos olhos, a cor dos cabelos ou o ópio que me tomava de modo súbito. Sentia conforto em fitar tais detalhes. As listras da camisa já não eram mais tão bregas, e até as músicas que a minha mãe ouvia faziam sentido agora.

Entendem o drama? Passei a furtar alguns discos (sem que ela percebesse obviamente), de grupos melodramáticos tipo Carpenters e cia ltda. Nem eu consigo acreditar, enfim.

Desmontava-me com os questionamentos mais simples; e eu negando respostas, como sempre. Percebendo o meu regresso, o sujeito, no alto dos seus um metro e noventa, voltou duas casas atrás. Como num jogo desses de tabuleiro, em que um pino entra em guerra com os outros. No caso, ele possuía o pino com o qual eu jamais joguei. A escolha foi dele. Antes de pegar a minha bolsa (numa tentativa frustrada de ir pra casa) e selar aquela tentação em forma de homem, salvei os seus últimos apelos:

– Sua vez de jogar.
– Eu não preciso jogar, passo a vez.
– Admito que esse seu jeito me intriga, sabia?
– Que bom pra você.

Muito bom, aliás.

postado [originalmente] em: 30 de Maio de 2006 ás 19:45

Você esqueceu a chave do carro na minha bolsa.

Tudo se resolveria assim mesmo. Nada simples. Confuso, me aguça ainda mais. Ânsia de escolher. Ânsia de negar. Mas, tudo bem. Nada fora pré escrito. Nenhum manual de instruções indicando o que deveria ser feito ou não.

Sentidos,
sentidos,
sentidos.

A razão já se mostra bipolar, distante. O calor se envaidece e me move:

– Sem arrependimentos, sempre!
– Fala isso por você ou por mim? em meio a dúvida, surgiu a questão.
– Falo isso por nós!

Como um sussurro, o silêncio se fez de modo ligeiro.
Calou-me com o mesmo veneno.

postado [originalmente] em: 1 de Março de 2006 ás 04:19

Carma e cama!

– Rasga, rasga! Eu tô pedindo.

E aquilo me soou tão intenso, tão fidedigno. Não tive como recusar tal auxílio. Com uma ligeira delicadeza habitual e total aflição cumpri o que fora pedido. Aquilo doía em mim também. E não tinha como não doer. Eu estava tão envolvida, mais do que podia até:

– Você tá melhor?
– O que você acha?
– Não complica! Eu não quero achar nada.
– Pára de ter medo de arriscar e me fala alguma coisa.
– Essa mania de me confundir te persegue, só pode! Meu carma.
– Instigar é diferente de confundir.
– Aí, já tá começando!
– Eu gosto da tua voz quando fica assim...
– Você gosta é de me confundir, eu já disse.

Com um sorriso costumeiro desfez qualquer início de confusão. Prendendo de tal maneira a minha atenção, que eu poderia cronometrar os meus batimentos cardíacos. Falava gostar da minha voz quando eu ficava embriagada com a maneira que persuadia em tudo; mal sabia que eu sorria por dentro, algo tão instantâneo. E o telefone não parava de tocar. Como repudio essa maldita invenção! Graham Bell o fez num dia muito infeliz. Como dizia, o telefone tocava... e tocava.

– Não vou atender mesmo! (disse num tom sarcástico)
– Tão cedo, quem está ligando desiste! (exclamou num tom baixo, como se quisesse que apenas eu ouvisse).

Silêncio. O telefone parou de tocar.
Respiração.
Pensamentos.
Brincadeiras.

– Tudo isso é verdade. (falei sem pensar, eu deveria ser mais forte e resisitir)

E os segundos corriam ininterruptamente. E ainda correm, pois não posso pará-los.

postado [originalmente] em: 11 de Fevereiro de 2006 ás 07:28

contos inventados, ordens e normas



Chovendo,
Caindo,
Matemática, lógica.
Se perca.



Por que gostar de histórias criadas? Questionável.

postado [originalmente] em: 2 de Fevereiro de 2006 ás 02:26

[auto-suficiência em] auto-suficiência

Desde cedo, auto-suficiente.
Mas, então, como poderia oferecer explicação á isso?
Não existia. E nem precisava.
Inventando cada dia (por distração mesmo).
Nossa divindade particular. Nossas histórias confidenciais.

postado [originalmente] em: 19 de Janeiro de 2006 ás 12:17 am

depois de umas e outras;

Overdose de insanidade – mode [ON]

(...) não obstante de mim, arrisco afirmar que há aproximadamente 5 metros cúbicos precisos de distância dos meus pés até o objeto destinado. Um ponto vermelho, formando-se em latitudes longitudinais. Dia inesquecível, memorável. Porém, todavia, entretanto, contudo (como gritara aos berros a professora, nos primórdios da minha vida escolar), advirto á mim mesma os riscos dos meus atos. Advirto? Sim, eu disse que sim! Ora pois, cumprir o que conceitualmente mostra-se politicamente correto ao extremo não satisfaz a minha ânsia.

Não deveria, eu faço!

E assim, como fora avisado. A pequena garota, não tão longe da figura superior em que demonstra estar integralmente inserida – sem modéstia alguma mesmo "C'est la vie", diga-se de passagem - , constrói o seu labirinto particular (...)

Ponto final.

postado [originalmente] em: 7 de Janeiro de 2006 ás 05:05

Feliz Páscoa!

E começa a sessão mais clichê de todo o ano. Desencadeada, obviamente, pela data mais capitalista do calendário mundial: reverências natalinas (tic).

Dia 24, véspera do dia 25. Ai ai, nascimento do menino Jesus? Que isso! Vamô é pro shopping gastar horrores. Isso é o que orna! (ps: sem nenhuma apologia religiosa). Acho tão surreal considerarmos, de modo extremamente fervoroso apenas dois dias do calendário. Acho minímo, acho pouco. Odeio o "achismo", por isso escolhi tão medíocre verbo pra demonstrar o que eu "penso" á respeito.

Portanto, não me venha com desejos de Feliz Natal, Boas Festas, Feliz Ano Novo! Bah! Meus anos possuem 365 dias; dos quais vivo de modo intenso, abrupto e inesperado. Não vejo teoria mais infeliz á que atribui apenas dois dias de suma relevância.

Escrevo isso porque fiquei puta mesmo! Minha caixa de e-mails lotada, scraps á la ctrl/c + ctrl/v (ou a poha do meuorkut.com), cheia de mensagens de desconhecidos que se sentem na obrigação de me desejar FELIZ ANO NOVO!

Eu gostaria de pensar que cada mensagem recebida detém conotação verdadeira. No entanto, eu sei que ansiar "toda a felicidade do mundo" pra mim, não é dividir a sua felicidade comigo. Mania de gente hipócrita isso. Não quero isso próximo de mim. Nem em 2006 nem em ano algum! Pelo contrário, eu faço absoluta questão de ter pessoas excêntricas 25 horas por dia comigo. E, que estas compartilhem surpresas com a minha vida. Aliás, especificamente pessoas que me surpreendam. Daquelas que me deixam contentes com uma ligação inesperada no meio da madrugada. Daquelas que lutam por mim, que me peçam aquele abraço "quebra-costela". Daquelas que me apresentam sempre coisas novas. Daquelas que venham em casa sem avisar. Daquelas que me acordam de manhã abrindo a janela do meu quarto e gritando "bom dia". Daquelas que me façam querer estar ao lado delas. Daquelas que planejam viagens mirabolantes pelo mundo todo. Daquelas que me passam cola no meio de uma prova bizarra, percebendo que eu não estudei poha nenhuma. Daquelas que bebam tequila comigo, que brisam comigo. Daquelas que me deixam bilhetes inesperados. Daquelas que tiram mil fotos comigo, mesmo que nenhuma fique boa o suficiente. Daquelas que me aconselham. Daquelas que brigam comigo e fazem ás pazes o mais rápido possível. Daquelas que gritam em montanha-russa. Daquelas que me levam pra melhor balada do universo, nem que essa "ultra-balada" seja ficar em casa vendo filme e comendo pipoca. Daquelas que me contam as histórias de suas vidas, que se tornam minhas amigas e que me façam querer ser amigas delas em constância equivalente. E principalmente, eu amo aquelas pessoas que vêem nos problemas a oportunidade de começar tudo de novo (...)

Tenho sorte em conhecer pessoas com tal adjetivo.

Feliz Ano Novo poha!

postado [originalmente] em: 30 de Dezembro de 2005 ás 12:13

Livro roubado

Escrever, escrever, escrever (...)
Eu prefiro a ausência das palavras a estagnação destas.
Não me apresente palavras, as faça valer.
Não me apresente teorias nem qualquer poesia em vão.

Seja melhor, vá além.

Desista de conhecer a minha verdade, mas se preocupe em me mostrar a sua.

Por fim, fora dito:

"Minha defesa está desafinada;
Meu sonho não é ele; e se mudasse
Assim de rosto, eu nem o conhecia.
Que as almas do céu todas me ajudem;
Falando em seu favor, fiz o que pude,
E virei alvo do seu desprazer
Por ter falado: tem que ter paciência;
O que eu possa, eu farei, que será mais
Do que por mim eu ouso. Que isso baste."


postado [originalmente] em: 16 de Dezembro de 2005 ás 05:51

young;

[saindo do livejournal.com para uma temporada entre colchetes]

Finais poderiam ser previsíveis,
Se os começos não surtissem notoriedade.
E aquela garota se fora;
Previsível,
Previsível,
Previsível,
Previsível;
Infantil,
Porque você acha isso.
Provoco risos.
Te instigo a me provocar.
Não quero nada que venha de você.
Mas, sei que fazes o que eu mando.
Eu não preciso de você.

postado [originalmente] em: 13 de Dezembro de 2005 ás 22:50