Não me considero diferente de qualquer outra criatura mundana - apesar de ter alguns pensamentos nada aceitáveis pela maioria. Nasci e fui criada em solo tupiniquim, pago uma quantia absurda em impostos para esse país; costumo ir em festinhas e/ou qualquer tipo de confraternização etílica, me divirto, me empolgo; e eu também me relaciono fisicamente, pessoalmente e amorosamente com uma freqüência satisfatória e bem feliz, se assim posso dizer. Então caro leitor, não se revolte com as críticas dissolvidas sobre um assunto que você usa como muleta, como ideologia, e usou para pegar alguém: o tal do amor.
O amor é o bom da vida, concordo. A minha mãe me ama, o meu cabeleireiro me ama e a minha cocker fica tão feliz quando me vê, que eu sinto que ela me ama também. No entanto, quem mais me surpreende no quesito 'me amar' é aquele cara do passado mais presente, boa pinta, bonito, cativante, que costuma achar graça quando faço manha e que, mesmo namorando, me liga só para avisar que me ama.
Ao que tudo indica, eu não tenho do que reclamar.
Contudo, o amor pode ser perigoso em alguns casos, acredite. As pessoas enxergam um mundo perfeito e ouvem passarinhos cantarolando, passam a acreditar que as coisas vão dar certo e criam expectativas de felicidade eterna por culpa dele.
O amor é plenitude, é êxtase. O amor é uma droga e como qualquer outra substância alucinógena provoca efeitos confortáveis ou não. Em excesso, o amor faz os apaixonados mudarem de atitude. O que, em termos, chega a ser compreensível, já que a maioria das pessoas se transforma quando se encontra nesse estado emocional. Mas, durante todos esses anos de vivência e prática amorosa pude perceber que comigo não é assim; e não me pergunte por quê.
Posso dizer que esse meu senso de auto-controle e auto-suficiência me deixam numa situação tranqüila. Não me sinto obrigada a ligar no dia seguinte e posso fingir com segurança que 'ele' é o dono da razão (sem ser). O meu revés se limita quando pareço estar cansada de assustar os homens com essa minha segurança sem limites, com esse meu alto poder de ser dona de mim mesma. Cansei de ser o máximo e o ponto mais alto, de ser um troféu inatingível e de ser difícil - tá, eu não cansei, mas achei cabível colocar isso no texto. Eu queria, por um só dia que fosse, ficar puta porque você não deu sinal de vida ou porque você esqueceu o dia que nos conhecemos. Porém, é tão simples e automático eu não me importar com isso.
Faço jus ao movimento daqueles que se amam sem pedir nada em troca, daqueles que se olham e se satisfazem por tudo que são, daqueles que não se comprometem e são mais felizes, daqueles que se comprometem e são tão felizes quanto, daqueles que distribuem sorrisos, daqueles que superam tomar um fora, daqueles que reformulam o vestuário quando querem, daqueles que nadam sem roupa, daqueles que entram no chuveiro acompanhados, daqueles que se doam, daqueles que não desperdiçam a liberdade, daqueles que não precisam do amor alheio para se amarem incondicionalmente.