segunda-feira, 23 de junho de 2008

O Código Winehouse

Cada centímetro do topete retrô-espetacular da cabeleira de Amy Winehouse simboliza a sua insegurança - isso, de acordo com a própria. Então vamos combinar que insegurança tem sido uma palavra latente na existência da cantora.

Contudo, há quem diga que Amy não passa de uma junkie. Dessas que não tem absolutamente nada mais útil para fazer em London City, e que, por isso, prefere se embriagar de vodka e doces lágrimas de amor - além de outros vícios.

Cocaína? Aham. A moça usa e abusa do pó branco. Crack? Também. Inclusive com vídeo à la vida loca life-style para mostrar que a britânica, com voz de negra, é uma viciada. Uma addicted!

Once is enough to make me attack
So bring me a bag and your man can come back
I'll check him at the door make sure he got green
I'm tighter than airport security teams

De fato, a única droga que a consome em doses crônicas é um mal que todas as pessoas carregam no peito. A diferença é que algumas mostram e se agarram onde dói, enquanto outras vivem no anonimato do sofrimento. E é exatamente assim que dois grupos distintos se evidenciam: o de pessoas e o de pseudo-pessoas.

Over futile odds
And laughed at by the gods
And now the final frame
Love is a losing game

Sem perceber, Amy se descreve em suas letras. Um refrão e o Código Winehouse é decifrado.

I cheated myself
Like I knew I would
I told you I was troubled
You know that I'm no good

E refrão após refrão - em uma seqüência tão viciante quanto os vícios da nossa querida - os ouvidos se concentram em espasmos criteriosamente segmentados por camadas: sensação, frases soltas, Frank Sinatra, vinho e cia limitada.

Por fim as músicas atingem a profundidade do pulmão, e o receptor se vê irremediavelmente sem fôlego e respirando o mesmo ar que Miss Winehouse. Afinal, uma vez ouvida, a moçoila vai invadir a sua concentração e o teu lábio involuntariamente vai cantarolar um They tried to make me go to rehab but I said 'no, no, no' como se essa composição tivesse sido feita pelo teu próprio pulso.

sábado, 21 de junho de 2008

Kitsune

Eu não gosto de esperar. Nunca gostei. A única manifestação que tenho próxima ao ato de esperar é o fato de não esperar. Exatamente assim.

Esperar cansa e desgasta um bocado. Esperar é não ter certeza de nada, mas principalmente não querer ter certeza de nada. Afinal, quando alguém espera por alguma coisa - no âmago dessa espera - existe a impossibilidade ineficiente de não saber a causa nem prováveis conseqüências dessa espera toda.

Esperar é impotência e fragilidade.

domingo, 15 de junho de 2008

Pistache

Ao ver os seus pés caminhando em uma fração de segundos que eu adoraria poder controlar, me vieram de tino o senso e o total entendimento do quão satisfeita estava por ter esperado a seqüência de tempo que esperei.

O fato é que esse 'total entendimento' me trouxe uma série de dúvidas e inquietudes. Dúvidas por conta de que estas aparecem sempre que penso em alguma constância referente à necessidade de planejar - vulgo idealizar -, que nada me agrada, ao contrário: significa uma doce tortura. Inquietudes conseguem me deixar em um estado confortavelmente desconfortável; ao passo que me traz um riso pela existência tua, também me traz uma falta de senso um tanto quanto oblíqua, obrigando-me a fazer coisas que eu não pensava que faria.

Tantas outras vezes me senti declinada à escrever diretamente à tantas pessoas, mesmo que não lessem absolutamente nada; a vontade de escrever era minha - e só.

Agora, torna-se tão rigorosamente excitante perceber emoções que desperdicei para, em troca, nos termos tão próximos.

Mas o sabor do sentir 'verdadeiro' é tão mais desconhecido; e não chega nem a ser um sabor, nós é que deslumbramos uma imaginativa sede intangível de querer saber o gosto de tudo. E, justamente, o que é verdadeiro não tem sabor, cheiro nem cor alguma. Somente nos apetece com a sua adorável indelicadeza de nos deixar a mercê de um poder que nos deixa fraco, e supostamente sossegados em uma tênue linha curvativa amorosa e viciante.

+++

Ressalva: disseram-me que a eternidade um dia será tragada pelo acaso. Ainda não tenho juízo a respeito de tal tese.

domingo, 8 de junho de 2008

Eco

Degraus
Cinza
Amarras
Cinza
Neblina
Nuvem
Bandeira
Notas musicais
Timidez solar
Lua
Recorte
Violeta
Punhos cerrados
Veludo
Selos
Timbres
Olhos de ressaca
Degraus

Uma lista de palavras que fazem sentido; ou não.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Sexta-feira.

Ela sempre tinha uma carta na manga. E sempre escondia detalhes quando não havia necessidade de escondê-los. Ela tinha o costume de não idealizar contos de fada, até que um dia viu a sua própria estória contada nas cenas de um filme. Ela não conseguia entender que podia ser alguma coisa além de ser 'coisa' pra alguém, mas certa vez guardaram-a num potinho com um laço bonito e bem forte.

Ela nunca quis esse laço. No entanto, a verdade é que ela nunca pensou que fosse possível caber em algum laço. Laços soavam tão subjetivos, tão próximos ao irreal, ao itocável e de todas as outras impossibilidades cabíveis.

Ela raramente atendia quando a chamavam ou correspondia signos alheios. Ela gostava do silêncio, de deixar as palavras correrem solitárias: uma em busca da outra. Admirava a forma, o conteúdo e o contexto.

Ela tinha medo de sonhar e mais medo ainda de que esses sonhos todos fizessem arte na vida dela. Ela via graça em acordar na hora errada, e de fingir sono só pra ganhar um beijo no pescoço. Ela preferia dormir abraçada, eternamente.

Mas ela ainda acredita em noites de sexta-feira.

domingo, 1 de junho de 2008

Anexos.

Digo que penso em muita coisa ultimamente. Talvez por pensar nessas coisas todas, acabo por não chegar em conclusão nenhuma. Nada. Por via das dúvidas, acho que é melhor parar de pensar.

É.