segunda-feira, 30 de julho de 2007

A fraude do ano.

Em solo tupiniquim, me parece ser mais fácil apelar para a mentira do que ser gradual em verdades formais e informais. Tem-se o exemplo de um senador que requer a um lobista para angariar fundos e pagar uma pensão abastada á sua filha, fruto de um caso extraconjugal - mas a criança (destaco) não tem a menor culpa por isso. Dessa forma, fica fácil encontrar outros exemplos nada válidos por Brasília e em qualquer outro canto deste ‘vão solo, és mãe gentil’. Tomemos Renan Calheiros novamente (tic). Que sorte tem este homem! Deveríamos tê-lo obrigado a ser o presidente da nossa nação. Afinal, aquele que ganhou o cargo de forma lícita e com o voto do povo, não tem tanta sorte assim. Traço um paralelo disso com a minha humilde existência e acredito que o mais cabível e sensato no momento seria abandonar a faculdade e investir na criação de gado. Que me perdoem o trocadilho infeliz os que o acharem assim.

Felicidade e mais um título. A seleção de amarelo ganhou a tal Copa América - e dos argentinos, ainda por cima. Parabéns (ou não). A questão a se refletir é que o futebol serve como um termômetro para os brasileiros. Se o time ganha, ótimo para comemorar, a vida vai dar certo, as coisas se ajeitam; já o contrário, se o time perde, foi feito algum feitiço contra os jogadores, a culpa é da sogra que estava na sala e falou ininterruptamente durante os 45 minutos de jogo, enfim: arranja-se uma desculpa para as falhas e para o mau desempenho e falta de vontade dos canarinhos futebolísticos. Mentira ou verdade, brasileiro pode gostar de esporte, futebol e qualquer outra atividade do tipo. O que não vale é acreditar demais nisso. Ainda na editoria esportiva, não consigo encontrar uma explicação plausível que justifique as vaias recebidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura dos jogos Pan Americanos. O que Lula haveria feito de tão grave para tamanha rejeição em público?

Contudo, nem só de mentiras reais esse mundo em que vivemos respira. Á parte do mundo de verdade, temos também aquelas mentiras tipo fraude. É a espécie de fato mentiroso que nós fazemos figa, mandinga, simpatia, etc., para acontecer. Porque, sinceramente, eu quero acreditar que a Björk está incluída na lista do Tim Festival desse ano. Ok, agora é o momento cabível para críticas alheias. Sei que tudo quanto é site, revista, folheto, torpedo, sinal de fumaça, sinaliza que alguns nomes até então inimagináveis da música mundial já estão confirmados para fazerem visita solene e profissional ao nosso amável Brasil. Destaco dentre os delírios previamente ‘confirmados’ Arctic Monkeys, The Killers, Juliette Lewis & The Licks (meu mais recente vício assumido), Antony and the Johnsons, Girl Talk, e a própria Björk - já citada. Outra: Nouvelle Vague divulgou no myspace oficial da banda, que a aterrissagem dos gringos acontece em setembro deste ano! Outros queridinhos mais queridos como Hot Chip, Kaiser Chiefs e a inglesa etílica Amy Winehouse ainda compõem a lista dos sonhos e ilusões. Boato ou não, se pudesse optar, gostaria que todos esses nomes encantados fossem mentiras, daquelas que se tornam verdades absolutas. Ainda existe uma lista de cogitados. Não a citarei, pois já seria uma viagem lisérgica sem proporções.

Por fim, um último tópico: a amizade eterna do presidente da Venezuela, Hugo Chávez e do presidente do lado de cá, teve uma queda. Algo assim, como um pequeno atrito, visto que o vínculo entre ambos não vem sendo lá muito expressivo e amoroso como era em tempos atrás. Chávez pode receber todos os comentários negativos possíveis, mas não é nada ingênuo. Muito menos Lula.

Tão cedo, atribuir o caos aéreo - vulgo instabilidade interplanetária - e outros quesitos referentes á aviação nacional é uma tristeza sem pesares. Calo-me em um silêncio que pode doer nos ouvidos. Falta de caráter e investimento são notáveis ou seria o progresso do país em bom tom? É de se pensar á respeito.

Por enquanto, aposta em qual fraude para esse ano?

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Sonhos e 'Os Sonhadores'

França, cinema, garrafas de vinho, sexo, rock, Godard, e três jovens assiduamente belos, podem servir de temática para uma história com facilidade considerável. Elementos a altura para a criação de um filme não faltam. Foi mais ou menos por isso, ou bem mais que isso, que 'Os Sonhadores' mostrou-se de interesse para esta que vos escreve. Tomadas leves e atraentes saídas da cabeça do diretor Bernardo Bertolucci - famoso pelo agraciado 'Último Tango em Paris' - tornam a película ainda mais vibrante e cheia de detalhes pequenos, grandes, e cativos. Porém, não me atrevo a soar como cineasta (que não sou) ou cinéfila (por devoção, apenas), uma vez que cinema está muito além dos meus conhecimentos técnicos. Porém, como pseudo-amante da arte, acho cabível tecer argumentos pendentes. Ainda mais, depois de assistir a trama e pensar em uma série de outras coisas, ligadas ou não ao filme.

'Os Sonhadores' supera as críticas iniciais que o público registrou. Ouvir comentários tendenciosos referentes aos cartazes do filme, que dão margem suave ao romance e ligações amorosas protagonizados, ainda é pouco. Dois irmãos gêmeos: logo Isabelle (Eva Green) e Theo (Louis Garrel). Ambos viciados em cinema; filhos de uma inglesa e de um pai-poeta-francês demasiadamente pensador; e habitantes de uma casa que poderia ser apenas uma casa, mas não é. Quase no final da década de 60, esses gêmeos siameses conhecem Matthew (Michael Pitt), americano que vai á Paris para estudar e se apaixona pela cultura que os ares parisienses inspiram. O roteiro segue basicamente este caminho.

Contudo, a armadilha de 'Os Sonhadores' não se prende apenas aos corpos dos jovens, que ficam á mostra com uma freqüência considerável, ou ás loucuras que os três discutem nas cenas. O título não serve de pano de fundo. Bertolucci teve mais do que sorte em optar por tal escolha. Os sonhadores somos nós, durante as quase duas horas de enredo. Em uma época revolucionária, cercada de dramas e sorrisos aleatórios, torna-se irremediável não se envolver no conteúdo e nas vidas dos adolescentes. Com 'Os Sonhadores', á época de 1968, na mesma Paris de hoje, um protesto estudantil em nuances de política á favor do cinema é abordado. Revolucionários dão início a um manifesto em favor da arte e da liberdade que desperta a alma juvenil - independentemente da idade que se tem. E mais, o filme foi rodado em 2004, no entanto ainda apresenta um teor de atualidade visível. Na França mesmo que seja, para não perdermos o foco, jovens ainda protestam e se revoltam perante á política e a todo o sistema que cerne a vida pública da sociedade. Nota-se a realidade do passado, e a que vivemos nos tempos de hoje.

Para quem sofre em busca de filmes clássicos nas locadoras á fora, 'Os Sonhadores' é novo e antropofágico do que já aconteceu. Simultaneamente. Enquanto Matthew, Isabelle e Theo dividem a mesma banheira e se concentram em observar os traços alheios, você provavelmente se perde no diálogo dos três e parece estar naquela banheira também.

"Agora você é um de nós".

PS: um brinde ao melhor do ócio universitário.

sábado, 7 de julho de 2007

Desatino e espelhos

Abrir o diário. As paredes em nuances perspectivas e o som alto, tocando qualquer sonoridade já conhecida pelos vizinhos. O sono é estático, desejo de não dormir – propositalmente – só para ver o Sol invadir o travesseiro em forma de abraço. Estupidez, pura bobagem.

A conversa é atrativa, imaginando o dono dos olhos que está do outro lado:

– Acho muito louco, isso de ficar pensando sem assunto determinado. Só por pensar, esse é o barato. Agora, escolher é imprevisível.
– Eu até entendo. Escolher envolve pensamentos (...)
– Sim. Mas, pra pensar você tem um controle. Pra escolher, não.
– Concordo em termos contigo, guri. Só que, pior que escolher é ter vontade. A gente não sabe de onde ela vem e tal. Escolhas, em sua maioria, sempre partem de um fundamento. Agora, me explica o mecanismo das vontades e eu prometo te deixar bêbado.

E ele a achou inteligente – pura tolice etílica. Por diferença, até falou 'boa noite, beijos'. Ela se contorceu em risadas.

Um dia a mais, um trago a mais. Aquele sorriso desmedido, entregue em mensagens sem entrega, soando complexo. Sem ter o que fazer por cabimento ávido. Os dias soltos, em hiatos desesperados, fazem da roteirista uma melodia instintiva; ela acabara de receber um rascunho premeditado em verdades já conhecidas:

"Sempre evitei ser rude contigo. Tratá-la com um desprezo que não és merecedora. Por ora, és tu que fazes o bem de mim, e me tira o mal sem assumir. O que me intriga é saber do vício que tenho nesse teu ar, que respiro roubado de ti. Sinto-me incabivelmente satisfeito com o teu olho brilhando de longe, e a tua pupila mirando alto os sonhos teus. Sonhos que queria ter, por devoção ao teu ego. Não sou poeta, por falha genética, me caibo em números e porcentagens, porém me habituo em ler Chico por ti. No entanto, meus escritos figuram fórmulas, tentativa e erro, pois não tenho o vínculo á palavra. Me atrevo porque és ousada ao máximo. E essa minha mania de pegá-la desprevenida e demonstrar que tu também tens um pouco de mim não funciona, por conta da tua liberdade domada. Poderia eu, me transformar em delegado e escravizá-la ao meu encanto. Contudo, és livre e doce. Tens a graça no jeito de andar sem dono algum."

Após a breve leitura, ela dobra o papel e o guarda dentro de um livro qualquer. Volta ao caminho, como se nada tivesse ocorrido.