domingo, 28 de dezembro de 2008

Envelope fechado

Eu devia ter feito um texto em papel e letra escrita manualmente com as previsões do que aspirava para os meus dias neste dois mil e oito. Assim que os escritos estivessem sob a forma de parágrafos, colocá-los-ia num envelope e fecharia com a condição de só podê-lo abrir hoje, 28 de dezembro deste ano ainda corrente. No entanto, eu não posso afirmar com garantia nenhuma se teria indicado tudo que me ocorrera até a presente data. Não mesmo.

O fato é que esta carta confessional - com alto teor visionário - nunca existira nem tão pouco foi planejada. Mas me deixem considerar que esse texto exista, pois parte do que será descrito em seguida poderia muito bem ter sido narrada nesta carta. Ainda bem que não foi. Haja tanta previsibilidade nos dias de hoje, fugir da obviedade me foi mais um adorável luxo inesperado.

Ainda bem.

Então, eu tinha um TCC pra fazer. Catso! Esperar quatro anos por esse tal trabalho que me seria menção para terminar a academia e concretizar planos futuros me pegou de jeito. Me fez trocar noites etílicas e desajuizadas por calmaria e tensão em frente a um computador por horas. Muito café, pouca badalação. Muita gastrite, nada de álcool. Eu bem que podia ter ficado louca, sem exagero algum.

A melhor parte já se faz conhecida: a faculdade foi uma das épocas mais felizes da minha existência, e me deu muito mais do que o esperado. O mais provencial foi me tornar madura o suficiente pra reconhecer que ainda preciso do apoio de muitos, mas a minha parte eu tenho feito de modo inteiro. Nada de metades - isso faz parte de textos antigos.

Ponto.

Por ora, vale ressaltar que, quando a alforria do projeto me permitia um fim de semana ou outro - que seja lá, sair em plena quarta-feira-delícia - parecia que a vida noturna continuava a mesma. Os queridos, os abraços, os beijos, a música, os clubes - essa mesmice me soou ridícula por algumas vezes, muito mais porque eu estava mais comprometida em idealizar outras situações (...) A diferença nesse contexto noturno se dava exclusivamente pelo número de copos consumidos, um tanto quanto maior que o de costume; porém releve, caro, eu merecia esse tipo de atento.

Além dos copos, os corpos. Aquela mania, lembra? Exatamente. A de se apaixonar sem medida alguma. Pois bem. Continua e, ao que tudo indica, é carma. E a Talita jurou de pés juntos que aceita esse fardo - aliás, escrever há mais de 2 anos seja [entre colchetes] ou não é um indício ligeiramente concreto de que o assunto preferido dela é esse. Não há muito o que fazer, convenhamos. Ou há - e ela sabe que sim.

Eu corri pra casa, tantas vezes. Escrevi menos do que quis, e não por falta de vontade. Acho que foi mais por estagnação, talvez. Contudo, os textos que pretendo escrever, estes sim, estão em envelopes fechados. Esperando por qualquer intuição semiótica.

No mais, este ano deve acabar. Afinal toda história tem o seu término. Só assim o autor se preocupa em promover um desfecho válido de se ansiar para um novo texto. É o ciclo das coisas. A parte isso eu tenho história pra contar para os meus netos, e um punhado de folhas em branco previamente prontas para qualquer coisa.