sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Setembro

Uma das coisas que mais me fascina ao escrever é não saber o que vão pensar a respeito. Posso até me usar como exemplo. Às vezes eu não sei o que quero dizer com meus escritos, digamos que eu não carrego muitas certezas. Das poucas convicções que tenho, a minha preferida continua sendo a arte do encontro; embora haja tanto desencontro, tal qual escreveu Vinicius.

Um dos casos é, inclusive, recente: 22 de janeiro. Consigo até lembrar a data e o evento anterior a data. Consigo lembrar do sorriso, das covinhas e da manhã nascendo enquanto conversávamos na sacada. Eu sabia o seu nome, você não devia saber o meu. Amores platônicos me encantam também - outra convicção que eu gosto e reconheço.

Desde então, alguns encontros intencionais e muitos desencontros ocasionais. Eu corri de você que nem o diabo da cruz. Eu neguei o seu nome três vezes, todas as vezes. Teria comprado passagem só de ida para um país dividido por dois oceanos e lá eu ficaria com o seu sorriso, as suas covinhas e aquela manhã na sacada.

Essa recordação estaria numa moldura bonita, decorando o meu novo lar distante. Afinal, eu faria questão de guardar tudo isso. Passaria horas te observando. Sozinha, e dando sequência a minha admiração platônica por você. Por 15 dias, eu acreditei nessa possibilidade. Voltei. O seu sorriso e as suas covinhas continuavam aqui, me esperando na portaria do meu prédio. Falei p/ porteiro que ele havia se enganado, que o pacote em questão não era meu.

Eu quase consigo enganar as pessoas quando alguém diz algo sobre você. Semana passada eu inventei de ser atriz passional. Usei o flerte mais inviável do mundo, desses que a gente decora em livros de banca de jornal. Me dei como missão convencer o outro a acreditar em um amor dissimulado. Prometi ligar no dia seguinte e o dia seguinte nunca chegou, nem vai chegar.

As nuvens se partiram e uma rastro de sol deixou o recado naquela mesma manhã de janeiro. Amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam, mesmo sabendo que o seu sorriso e as suas covinhas estariam na parede de casa assim que a primavera tivesse início.

Eu aqui, concordando com Vinicius e mandando Eça ficar em silêncio por hoje.