quarta-feira, 27 de março de 2013

Um dia

Um dia tem 24 horas, 1.440 minutos e 86.400 segundos. Dentro dessas partículas temporais, existe algo imaterial que habita a propriedade mais importante do tempo em si. Um dia carrega 3 suspiros e 47 batimentos cardíacos pela manhã, quando a moça desperta e tenta lembrar o sonho que teve durante a noite.

No dia dela, as horas costumam passar devagar. Ela vem trabalhando tanto que a vida dela às vezes parece estar na mesmice. Lá no fundo, no seu seu mais eu de todo o sistema solar, ela guarda o medo de os amigos não a reconhecerem pela rua. Ela anda tão sumida que na próxima vez que pisar em seu bar preferido vai ter de fazer amizade com o barman pra ganhar a sua confiança novamente. Essa moça é coadjuvante nesse texto e ela sabe disso.

Do outro lado da cidade, a baixista sem freio na língua; sem freio na vida, pra dizer bem a verdade. Ela parece um desses trens que passam de madrugada no último horário, fazendo muito barulho, acordando o bairro inteiro. Ela é quase uma luminária, por onde passa costuma deixar luz e calor. Tem a risada fácil, gostosa, que te faz rir junto mesmo que a história contada seja a coisa mais boçal do universo.

Os acordes, ela vai construindo pela vida, juntando melodias sinceras das pessoas que conhece. A música dela tem sol no compasso e na palavra, com direito a salto alto na hora certa e tênis rasgado em todas as horas possíveis. Ela tem um amor pra chamar de seu e uma fila de novos amores que querem ser dela. Onde ela pisa fica um sinal demarcando território e fazendo do mundo algo que não cabe nas mãos. Algo que não cabe em um dia, em 24 horas, em 1.440 minutos nem em 86.400 segundos.