domingo, 4 de novembro de 2012

Vênus em fúria

Sabe aquela sensação de conhecer alguém e saber que esse mesmo alguém um dia vai tomar um significado maior? A situação em que vocês se conheceram passa a ser um detalhe, por mais que você se lembre que foi há uns dois anos atrás e que ele não sabia amarrar o cadarço do tênis naquela época. Agora, parece que ele se encaixa em você mais do que o seu vestido preferido.

Eu consigo até sentir uma leveza no peito. Foi um parto deixá-lo assim nesse estado, como se fosse um balão de gás hélio solto no ar. E eu que achava que esvaziá-lo seria a solução da minha insônia. Ledo engano. Dos males, o menor, pelo menos agora ele respira sozinho. No entanto, eu consigo me contradizer horrores nessas horas.

Um amor pra substituir o outro não funciona. É o mesmo que pedir um hi-fi e o moço do bar dizer que não tem suco de laranja e colocar suco de limão no lugar. O gosto não vai combinar com o que você queria e ainda vai te dar dor de cabeça no dia seguinte, acredite. Não dá pra trocar uma peça por outra. Se assim fosse, tudo seria mais fácil e tão mais sem graça.

Por falar em graça, eis o meu ritual de sempre: morrer de amor um pouquinho, dia após dia, e mesmo assim continuar vivendo. Usar o perfume que ele gosta. Beijar como se o amanhã nunca fosse acontecer. Acordar com Beatles e sair da cama devagar, só pra virar o disco. 

O vazio continua vazio, só falta alinhar os planetas e encontrá-lo quando Vênus estiver em fúria. Eu com o meu vestido, ele com o tênis bem amarrado.