quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Onze.

Disseram-me que as tatuagens denotam as virtudes de uma pessoa. Seja pelo desenho escolhido, seja pela ousadia do traço, pela dor de sentir dor - e gostar da dor -, ou seja por conta de uma história que foi razão propulsora para marcar a pele com tinta e agulha.

As pessoas carregam cicatrizes e dores. Algumas mostram o que sentem com tanta veracidade e desprendimento com o que se dói, que chega a ser irreal o manifesto em forma de 'doa com a intensidade que doer, mas doa'. Outras escondem os locais marcados, por covardia de literar emoções antigas e, por conseqüência, histórias de um passado nem sempre tão distante.

É na pele que se conhece o tato. Tato esse, que prolonga sensações e ameniza um afeto que seria tocável somente no subjetivo. Entre colchetes, considero que o tocar a pele e tatear o intangível em forma de corpo é engraçado, chega a causar-me um atípico riso quando constato tal pseudo-afirmação; embora isso não faça diferença, uma vez que se tornou metodologia certa nos meus encontros e desencontros.

Previsibilidades conhecidas, o fato é que existe uma relação de amor e ódio entre pele e tatuagem. Ambas poderiam andar em linha reta, uma atrás da outra se não fosse um detalhe: as duas mostram os pecados assumidos (ou não) por cada um. E pecado por pecado, é por intermédio dele que as pessoas denunciam suas qualidades e advertências.

Acredite, pode-se denunciar um bocado pela arte em forma de rascunhos tatuados na pele. Afinal signos são signos, e não há como hesitar o oposto. O mundo todo é uma vaga representação do que somos e de como somos. As nossas marcas, tatuagens, contos, e toda essa pluralidade do 'ser' é o que nos deixam na condição de únicos.

Schopenhauer explica:

"O mundo como representação, isto é, unicamente do ponto de vista de que o consideramos aqui, tem duas metades essenciais, necessárias e inseparáveis. Uma é o objeto; suas formas são o espaço e o tempo, donde a pluralidade. A outra metade é o sujeito; não se encontra colocada no tempo e no espaço, porque existe inteira e indivisa em todo ser que percebe: daí resulta que um só desses seres junto ao objeto completa o mundo como representação, tão perfeitamente quanto todos os milhões de seres semelhantes que existem: mas, também, se esse ser desaparece, o mundo como representação não mais existe".

Entre colchetes, cabe o comentário de que tato tem a ver com vontade. Aliás, vontade é o que faz o meu ego megalomaníaco gritar em letras garrafais.


Ressalva: no âmago da literatura que é delimitada por analisar a dualidade existente entre 'um ponto de vista e a vista de um ponto'.

Últimas palavras em negrito.

Não sou santa,
Não nasci pra fazer caridade.
Não sei me fazer de rogada,
Nem oferecer metades de um nada.
Ao meu ver, metade tem a ver com meio, vazio e incompletude,
Enquanto eu gosto do contrário - ousado -, sempre:
Tenho apreço pelo cheio que completa.

(...)

O meu copo está repleto de inspiração.
Me embriagar é conseqüência.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Entre tangos e adoráveis tragédias.



Meu jardim
Meu reflexo
Meu afeto
Meu colorido
Meu beijo na orelha
Meu contador de histórias
Meu dormir abraçado
Meu acordar sem lençol
Meu pensador
Meu bonito
Meu marginal
Meu violão
Minha consoante
Minha gratidão
Meu continente
Meu revolucionário
Meu verbo literal
Meu confete de chocolate branco
Meu sonhar
Meu querido
Meu menino
Meu.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

À italiana.

Só teria alguma graça em sentir o carnaval, se Chico B. cantasse as suas modinhas carnavalescas. Imaginem-no descendo a Rua Augusta com os versos 'Estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a banda passar cantando coisas de amor'. Melhor se Tom Z. viesse do lado, na Consolação, com a nota 'Lua uva. Lua nova, lua noiva, ô, luar.' Ia ser um festão daqueles, de deixar o peito em chamas.

Entretanto, a realidade subversiva vai pelo oposto. Em suma, temos escolas de samba superfaturadas em guetos, peitos siliconados - seja de rapariga ou de guri -, e nádegas (aos montes) no sacolejo de lá e de acolá.

Mas, viva a Brasiléia! Viva a bêra desigual no copo alheio, caro. Porque enquanto houver silicone e purpurina na avenida, assim será. No Rio de Janeiro ou na São Paulo de cá.

Não. Coração. Aqui, não há comentário que diga não gostar da festa tropicália. O feriado mais prolongado do país é bem-vindo, uma vez que deixa vago os dias para pensamentos saudosos. A propósito, alertaram-me que matar saudades é crime passional - nem que seja ao escrever notoriamente sem sentido o que nem a escritora deste faz questão de entender. Digamos que estou á beira do cárcere, e sem rendição alguma.

Viva a máfia, viva os contos romanos e as garrafas mexicanas!

'Eu tô te explicando
Prá te confundir
Eu tô te confundindo
Prá te esclarecer'

+++

Ressalva da Tapioca: quem vai fiscalizar as gastanças dos Ministérios Tupiniquins em pleno carnaval, que se manifeste. Cartão corporativo pode ser um perigo em festejos do corpo e da cachaça.