segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

358 dias;

Mouling Rouge, tequila, família, abraços, carinho (...) Dois mil e sete começou mais ou menos assim. Aliás, a cronologia completa nem é tão relevante no contexto atual, mas, digamos, que ter um início de ano como o que eu tive foi fator crucial para uma série de coisas que vieram em seguida. Em parte, isso é culpa da minha mãe - eu acho. A minha querida costuma dizer que é importante pensar em sentimentalidades bonitas desde o primeiro dia do ano. Desse modo, os outros 364 dias obrigatoriamente devem seguir a ordem do que fora idealizado. E, eu não me cerquei de cuidado algum para pensar no que eu queria em 2007. Talvez fosse melhor ter levado ao pé da letra aquele ditado: 'cuidado com o que você deseja, uma hora pode se tornar realidade'.

Mania de sonhar o inexplicável.

Olhando para trás, percebo que fizeram muito por mim. Confesso não ser a sociabilidade em forma de gente, no entanto, conheci pessoas que me deixaram provar do inverso. Quando digo isso, lembro dos sorrisos que me foram entregues com facilidade; dos amigos antigos, sempre presentes embora a ausência física seja amarga; dos novos amigos, que já parecem conhecidos de longa data; de brindar com razão; de brindar por duas décadas; de fazer a linha 'Brilho Eterno de Uma Talita Sem Lembranças'; de trilhas sonoras impecáveis; de decorar os discos da Feist sem querer; da telepatia habitual; dos meus pecados sulistas; das ligações não atendidas; das minhas vontades feitas; do gosto pelo café; do gosto pelo alheio; da devoção por cinema; da sensação de liberdade, mesmo namorando despretensiosamente.

Por conta disso, descobri que o meu coração é um bocado grande. Se eu comentar algo relativo com o meu primo, é certo que ele vai fazer uma piada sem graça referente ao número do meu sutiã. Contudo, falo sério. Acredito que a causa da minha morte - que um dia virá - vai ser por motivos cardíacos. Não por questões de sofrimento passional; pelo contrário, o lado esquerdo do peito está tranqüilo e cada vez mais enamorado. Porém, apesar de ter um coração forte sem muitas decepções para contar, o músculo involuntário dói. E sempre pelo mesmo motivo. Saudade é o que há.

Não tenho dúvida de que pessoas legais moram longe. Entretanto pessoas mais-que-legais, daquelas que tu vai querer contigo nem que seja em pensamento, moram muito mais longe ainda. De fato, eu nasci pra sentir isso. Sou um poço de nostalgia e uma saudade ambulante. Sinceramente, isso não muda; uma vez que não há remédio que reverta o irreversível. Quanto à inexistência de cura para ações imutáveis, aquela mania de se apaixonar continua. Vi-me encantada desmedidamente três vezes, por almas tão iguais e tão diferentes entre si. A propósito, disseram-me que nos apaixonamos por pessoas que carregam consigo um pouco do que temos e um muito do que queríamos ter.

Não é que isso tem uma lógica?

Pois bem, comprovando que eu não meço limites e deslimites em tangência do que eu sinto - e, quando eu sinto, eu sinto em demasia -, não tive vergonha de aparecer sem aviso, nem tive receio de pedir cafuné; não tive medo de tirar o vestido ou confessar a proporção dos meus sentimentos; peguei no sono da melhor forma do mundo em 22 de setembro; e aprendi um mínimo de italiano e espanhol, meio que para falar na mesma língua que os amados.

O vício por sotaque é aquela coisa toda. O vício por consoantes, idem.

Ganhei presentes sem aviso prévio. Até consigo escolher o mais adorado com unanimidade: foi quando o guri de camisa xadrez cantou Mutantes e disse que a minha Keep Cooler de pêssego era frescura de menininha, embora assumir que achava um charme.

Ganhei um sobrinho.

Mudei um tanto. Todavia, ainda tenho as minhas teorias loucas, planos que beiram o mirabolante e atitudes sem sentido. Ainda omito frases e me calo no silêncio do desdizer quando acho necessário. Ainda sou indecisa. Ainda tenho as minhas convicções e argumentos próprios. Ainda vejo beleza no teu provérbio e na tua perna direita, naquela foto da lambreta. Ainda faço promessas só pra ver o teu riso de canto e a tua face de curiosidade. Ainda escrevo os meus delírios. Ainda falo bobagem e danço olhando para o nada. Ainda continuo na saga de não planejar, e isso também não muda.

Dois mil e oito, continuará deliciosamente assim.

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Ressalva: no âmago da literatura pseudo-verídica-nada-profissional.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Se o sistema não funciona, bota na conta do Papa!

Mais de 2 milhões de pessoas já assistiram o tão alardeado filme 'Tropa de Elite'. O detalhe fica por conta de que, além desse número alarmante, outros milhares tiveram acesso a película por meio de versões pirateadas.

Entenda-se por pirateadas todo um sistema: primeiro o filme original nasce na cabeça do diretor. Este escolhe os atores a dedo, idealiza as cenas, promove a produção da história e, enfim, consegue terminar o longa. Após muito trabalho - diga-se de passagem um bocado de trabalho, visto a falta de investimentos ao cinema nacional - esse mesmo diretor consegue algum patrocínio, o que fomenta a divulgação do filme.

No caminho inverso, a pirataria desenvolve uma ação parasita e rouba os direitos de seu verdadeiro criador. Com pouco esforço, grandes nomes do esquema que pirateia essas cópias adquirem um único exemplar da versão original - muitas vezes antes da chegada deste as telas do cinema - e reproduzem milhares de cópias. Afinal, a demanda por estes produtos é considerável e conta com um público cativo.

Enquanto o enredo do filme cai no clichê brasileiro de vários palavrões soltos em frases aplicáveis, que condenam a realidade banal do nosso país, a trama joga na cara do receptor 'sim, você faz parte do sistema'. Esse sistema, segundo o próprio 'Tropa', foi instalado para solucionar problemáticas nacionais. No entanto, o sistema (na prática) existiria para tentar estabelecer um controle que solucione os problemas desse mesmo sistema.

Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura, talvez não soubesse que aquele não é o único 'sistema' neste vão solo tupiniquim. Nós, brasileiros, gostamos de impor normas pelo simples prazer de quebrá-las.

[In]utilidade do Sistema

Diz a regra que a funcionalidade de um sistema é contribuir para organizar um todo; na polícia, por exemplo. Na política também seria. Nesse sentido, um assunto em especial me chama a atenção quando o comparo com outras notícias: a CPMF (Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores).

Para quem ainda não sabe, esse imposto nasceu sob argumento de (pseudo) imposto, que teria a prerrogativa de angariar mais fundos para auxiliar o Governo nos investimentos em saúde pública. Temos ai outro sistema. Podemos não percebê-lo, mas temos um.

A decisão do momento é falar absurdos que anunciam que sem a CPMF o sistema de gestão da política nacional vai por água a baixo, por falta de dinheiro. Ora, mas o nosso país já dispara perante os outros no que tange os impostos; porque então nos falta a verba que deveria provir desse pagamento?

A resposta é simples e está aos nossos olhos. Temos um sistema que não funciona. Ou pior, nenhum dos sistemas existentes para a organização e ordem do Brasil consegue desempenhar o seu papel.

A CPMF pode ser o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), assim como foi mostrado no 'Tropa'. O imposto age silenciosamente sob um mecanismo que atua na mesma sensibilidade de um projétil; ambos não avisam quando serão acionados, apenas fazem o que o sistema os manda. O fato é que tanto o imposto como o Bope são formas de sistemas em nosso país. Sistemas que não desempenham a sua real função.

O cidadão comum pode demonstrar que está de saco cheio de corrupção, cansado da violência, e do estado paralelo nas favelas. Porém, este cidadão não é capaz de nada enquanto for obsoleto ao sistema. Nem enquanto for cúmplice de uma cópia pirata, que retrate a ineficiência deste sistema que ele contribui para que continue do modo como está.

E quando falta competência, o jeito é colocar na conta do Papa, líder de outro sistema: o religioso.

Que Deus nos ajude!
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Anexo necessário: 45 versus 34, Brasil.

Esse texto fora desenvolvido para a matéria Redação B há um ligeiro tempo atrás. Talvez outubro, a memória é falha. Entretanto, estava devidamente guardado, na espera de momento mais oportuno para entrar [em colchetes]. Feito isso, agora me pergunto: essa é a hora?

domingo, 9 de dezembro de 2007

Veludo azul.

Filmes de cronologia barata em aspectos previsíveis sempre me fogem á mão. Ás vezes, claro, jogam-me para cima desses contos melodramáticos, com musiquinhas cativantes que não saem da nossa cabeça assim que ouvidas numa primeira vez.

Foi mais ou menos isso.

Tarde de outubro, muita ilusão na cabeça e a vontade de fazer nada falando alto. Em grito oposto, o João passa em casa, me joga dentro do seu carro e me enforca naquela sessão de cinema absurda na casa de algum amigo tosco dele.

- Essa que é a tua amiga? - perguntaram-lhe.
- A própria - disse João entre um 'Oi, beijo', com esse tal amigo que nos recepcionou.
- O João fala horrores de ti, guria.

Eu não sabia o que responder. Não mesmo. Esse tipo de situação de amigo que fala da amiga para os outros amigos que essa mesma amiga só conhece de nome não é o meu forte. Ah, sim, ser sociável á primeira vista também não.

Continuo:

- Não sei o que o J. fala de mim - suspirei alto.
- Não faço mistério, amor. Todo mundo sabe que eu te adoro um tanto - gritou J. na minha orelha, ao passo que me dava um abraço gostoso e me oferecia algo pra beber.

Enquanto percebo os detalhes do copo, com desenhos de caveiras e outras bizarrices tipicamente horror-show, um algo de interessante pede para ser visto do outro lado.

O modo como fingia não me olhar foi elemento propulsor para o meu encanto gratuito - além de me chamar a atenção pela camiseta com o Bowie na frente. Ele parecia ser mais velho, parecia ter controle e saber exatamente quando perdê-lo. Sentava-se de lado, e sentia um conforto absurdo com tudo aquilo. Amigos ou não, eu e o desconhecido em questão, estávamos sucintos por alguma tentativa de cinema.

Com um outro copo, me deixou na dúvida se bebia o mesmo que eu. E, dúvida por dúvida, tive vontade de saber do gosto.

- Tás bebendo o que?
- Prova. A Carol esqueceu o copo aqui do lado. Deu bobeira - sorriu.
- Forte. Hum, parece absinto.
- Isso, pode crer. Sem dúvidas: absinto. Sente?
- O quê?
- Perguntei se sente.
- Tá, essa parte eu entendi.
- E por que não responde.
- Responder o que?
- O que sente.
- Eu posso sentir tanto.

Não precisou de muito. Tinhas que ser tão cordial comigo, e corresponder ao meu cumprimento forçado? O pensamento instintivo me levou a acreditar que seria melhor ter recuado ao João horas antes, e ficado em casa pela eternidade.


[Parte II: da arte de não ligar no dia seguinte]

Sei que não tenho a elegância nem o modo certo de pedir; mas, por favor, não seja assim tão afável comigo. Não me olhe nos olhos, não me pegue pela barra da calça, não me tenha por cada segundo, e não me faça perder a vontade de assistir David Linch no momento em que conversamos em segredo.

Não me entenda quando eu quero dizer sim pelo não, ou vice-versa. E, definitivamente, não diga que tem a coleção completa de Tarantino na tua casa. Assim, dificultas o meu declínio pelo convite teu.

Não seja doce comigo, e nem me beije devagar. Faça tudo ao contrário, facilite o meu desapego. E, não seja o que és comigo. Afinal, o teu encanto já nivelou o inesperado.

Em frente à batalha, eu já sei de cor a tua seqüência.
Sem obrigação.